Seu futuro está sendo subadministrado

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Um país rico e abundante em potencial hídrico e consequentemente capaz em geração de água, energia e riqueza vive refém de chuva, de temperaturas amenas e de capital externo. Um governo de mais de 12 anos, muitas caras (de pau) e muitas mentiras deixa nosso futuro comprometido pela falta de administração, pela absoluta incapacidade de planejamento e investimento. Não existe falta de recursos ou receita.

Neste cenário nossos negócios, sejam eles industriais, comércio ou serviço, ficam na corda bamba da sucateada infraestrutura e das mudanças das políticas públicas que afetam toda a cadeia de geração de riqueza (ou pobreza) a cada canetada não prevista ou a cada não investimento necessário. Assim, tem sempre alguém que mete a mão no que seria o seu carro, sua viagem, sua saúde, sua aposentadoria ou seu futuro.

O governo falsifica seu superávit e resolve tudo na caneta e nós, empregadores, empregados, desempregados e estudantes, impossibilitados de tal artifício, temos nosso presente e futuro incertos e encurtados. Quantos negócios são afetados a cada (in)decisão covarde do governo que não governa?

Estradas ruins, campeãs em roubo de carga, lotadas de pardais conspiram e encarecem sua comida, seu lazer e ameaçam a vida de seus usuários, apesar de seus impostos serem pagos compulsoriamente a cada nota fiscal, a cada exercício fiscal e a cada tabela não corrigida do imposto de renda, a cada não correção dos índices salariais ou da aposentadoria.

Piques e falta de energia e de água paralisam ciclos industriais, detonam a lavoura, atrasam o serviço, prejudicam e punem o comércio, tudo porque não falta água, mas faltam políticas que planejem e executem o país que eu e você pagamos para ter. Penso sempre em meu filho e alunos... o que restará para eles?

Uma simples mudança no índice de financiamento da casa própria altera todo o mercado da construção civil, desde a captação de dinheiro no mercado, passando pelas construtoras e todos os milhares de fornecedores de matéria-prima e serviços, milhares de lojas de materiais de construção, o que afeta o emprego e a geração de renda. Todos esses empresários planejaram retorno financeiro, calcularam custos, investiram economias e lucros em nome de um futuro melhor, e a gestão do país insiste em transformar planejamento em aposta. Querem transformar empresários e trabalhadores, a todos, em apostadores. Somos Vegas! Sem luz, sem glamour... só uma mesa com feltro puído e cartas marcadas.

Assim, marketing e política se entrelaçam, ambos afetam investimento, retorno financeiro, emprego, demanda, oferta...

Vivemos num organismo sobrecarregado, onde pouco a pouco vamos adoecendo. Temos um corpo que poderia ser saudável, mas uma dieta ruim e uma postura sedentária insistem em nos matar. Um corpo viciado em jogo, que aposta seu futuro, no escuro (sem trocadilho).

Não vivemos crise hídrica, energética ou fiscal; vivemos, sim, as consequências de muitos anos de ingerência sobre todos esses temas, vivemos a doença porque a saúde não foi cuidada. Amputamos o braço agora porque quando a unha ficou roxa ninguém foi ao médico. Vivemos, sobrevivemos, ou melhor, subvivemos sem saber o que será de 2015, porque as gerencias do país, estado e município não executaram seu trabalho em 2014, 13, 12, 11... E como numa contagem regressiva, regredimos agora e esperamos a hora do emprego recuar, do poder de compra minar e do futuro ruir.

É muito frustrante ver um futuro pior. Entendo que a vida é prosperidade, é fazer de hoje melhor que ontem e o amanhã melhor que tudo que já houve, e todos temos hoje o medo do amanhã. Penso em meu filho, em meus alunos e pergunto: que herança estamos deixando? Que legado restará a eles?! 

Um país que não planeja, não executa, não prospera está doente e deixa que todos nós fiquemos doentes também. Vivemos a incapacidade de gerir, e consequentemente de gerar, seja energia, água, riqueza... E, assim, incapazes de gerir e gerar futuro.

Encerro essa coluna com uma frase que para mim é um mantra, deveria estar escrita na porta do Congresso e do palácio da Alvorada:

"Não existem países subdesenvolvidos. Existem países subadministrados.” Peter Drucker.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de 

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia 

Ambiental, professor titular da Ucam e sócio da Target Comunicação

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