Sedução e mercado

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Lingerie é sedução. Sedução para quem vê, veste, fabrica e vende. Cada uma seduzindo ao seu modo, a lingerie parece ser o sonho de consumo de muitos, e talvez exemplifique como poucos muitas das nossas essências humanas.

No mundo da sedução há (ou pode haver) prazer, frustração, competição, envolvimento, egoísmo, cooperação, exibição, voyerismo, entrega, amor, ódio e tantos outros sentimentos que se confundem e se esbarram em meio a corpos suados e expectativas de desempenho...mais ou menos como o complexo mercado da lingerie.

Deste modo, há quem sonhe com a riqueza, quem torça para o tropeço alheio, há quem se dedique, há quem inveje, há luxúria, há fracasso...

Fevests à parte, o dia a dia das confecções ainda precisa melhorar muito, aliás, o dia a dia dos clusters ainda precisa evoluir muito por aqui. Em feiras, eventos, festivais e tantas outras boas iniciativas que acontecem em nossa cidade, ainda tem uma turma, e das grandes, que fica de fora, torcendo pelo fracasso e/ou se aproveitando de forma “esperta” de toda a inércia gerada por quem coloca dinheiro e a cara nas ações.

Moralmente duvidoso e mentalmente contraditório, tal postura demonstra o egoísmo e o estreito limite da cooperação e pensamento. Se para uma boa relação a cumplicidade e a paixão são necessárias,  para desenvolvermos o mercado não é diferente. 

Isso acontece no polo metal-mecânico, na lingerie, na gastronomia, no turismo e onde mais se olhar de perto. A minoria realizadora é perseguida e pressionada pela maioria inerte que resmunga e se aproveita.

Empresas dedicam-se a capturar clientes, mão de obra, modelos de negócios, fornecedores de seus pares, ocupam-se tanto em prejudicar que não lhes sobra tempo para crescer, aprender, melhorar.

Diz o ditado que concorrente bom é concorrente morto, em uma versão que consegue entender que o mercado é segmentado, e nos é impossível cobrir todo o mercado, mesmo no limitado senso de um mesmo segmento, a versão acabada diz: concorrente bom é concorrente conhecido, parceiro, alinhado e qualificado. Concorrente o qual faz conta, não canibaliza o mercado, informa boas práticas ao mercado e tira, assim, poder do fornecedor ou cliente. 

Qualquer iniciante em estratégia sabe o quanto o poder de barganha de fornecedores e compradores pode tirar de uma empresa.

Centrais de compras, de treinamento, de venda, alinhamentos de comunicação que fortaleçam o polo, mais eventos e festivais, desenvolvimento do conceito de polo e tantas outras iniciativas que exijam alinhamento são soluções poderosas para um mundo onde cada vez mais o poder migra de indústrias e varejos, para alcançar compradores e consumidores.

A inventividade precisa transcender produtos e alcançar a gestão, assim como o sexo precisa alcançar o amor. Feiras, festivais, eventos e qualquer outra iniciativa que gere centros de consumo e alinhamento de um setor são iniciativas louváveis, necessárias e indispensáveis, mas acreditar que tão somente isso irá resolver nossa estratégia de longo prazo é pura miopia — se não cegueira.

Temos que parar de passar a mão no concorrente, aproveitando-nos, e iniciar um processo de dar as mãos, cooperando. Novos polos de tudo, de qualquer coisa, de todas as coisas surgem a cada dia, e o futuro não está garantido, nossa cidade ainda depende e dependerá por muito tempo de nossos clusters. 

Podemos nos comportar como aproveitadores, podemos nos entender como apoiadores, ou podemos nos tornar, de fato, um time onde todos ganhamos, porque juntos, não somente somos mais fortes — somos imbatíveis.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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