Quinhentas

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Muita coisa mudou desde que eu comecei a escrever aqui no Jornal A Voz da Serra. Aliás, transformação é a palavra da década. A velocidade assustadora como tudo muda é conteúdo e pauta constante desta coluna. Faz 11 anos e nestes mais de 5,5 milhões de minutos que se passaram, desde a primeira tecla pressionada até agora quando você lê está coluna, muitas marcas insignificantes surgiram e ganharam o mercado, outras que pareciam imortais morreram, e outras com grandes oportunidades não aproveitaram e outro tanto que pareciam imprensadas arrumaram seu espaço.

Há 11 anos atrás não existia o iPod, o iPhone ou o iPad, tudo que se consumia era o aipim! As torres gêmeas estavam lá, o Michael Jackson ainda cantava e sua TV era enorme em profundidade e pequena na tela.

O mercado sempre foi dinâmico, mas cada vez ele assume velocidade maior. Tais mudanças são provocadas pelo homem, com seu desejo e capacidade para o novo, para o diferente, para mais. Nós, enquanto criadores de produtos, estamos cada vez mais perto de nós “desejadores” dos mesmos, que com aquela querência infantil, não nos satisfazemos por nada, sempre mais, e onde tudo nunca é o bastante.

As transformações experimentadas enquanto consumidores, usuários de produtos novos, que gozem de novas tecnologias, de novos conceitos e experiências de uso, nós continuamos dissociando muito trabalho e consumo e consumo e trabalho. Calma, eu explico!

Consumo e trabalho, porque ainda esquecemos quanto trabalhamos para obter aquilo que nos conforta sobre a afirmativa do “eu mereço”. Achar esse equilíbrio entre usufruir e produzir continua um desafio e nem de longe parece apontar para uma solução.

Trabalho e consumo porque continuamos dissociando o que ofertamos do que queremos obter. Empresas e colaboradores ainda esquecem ou simplesmente nem de longe priorizam a experiência de consumo com seus clientes. Nestas quinhentas semanas de notícias sobre o marketing isso parece ser o segundo e permanente dilema do mercado, quase ninguém entrega o que todos querem comprar: atenção, cuidado e respeito.

As empresas ainda olham para si, e apenas com olhares rápidos se debruçam sobre consumidores e as etapas de satisfação destes: pré-venda, vendas, ferramentas de controle e pós-vendas. Todas ainda engatinham. A mesma correria que substitui produtos e marcas, hábitos e preferências segue atropelando consumidores e experiências de consumo, nivelando por baixo quase sempre.

As empresas ainda fingem se importar com o consumidor e com o mundo, colaboradores ainda espelham nesse comportamento de suas empresas e consumidores seguem sem encantamento, sem felicidade e sem fidelidade.

O mercado precisa e irá se transformar, e neste processo restará apenas dois grupos de empresas, em pontos extremos, onde de um lado teremos uma troca superficial, onde vender vai ser como um baile funk, regado a cerveja barata e drogas, onde o que importa é beijar na boca o maior número de pessoas (pra simplificar, vai que tem menores de idade lendo) e no outro extremo: amor eterno amor, onde compromisso e cumplicidade desenham a base do relacionamento. Assim vendedores de commodities apoiados em preços baixos e baixo serviço, sem qualquer preferência ou lembrança do consumidor, e de outro lado, marcas com atitude, história e resultados contundentes. Quantas colunas ainda demora para isso acontecer?! Mais de quinhentas é certo, até lá, quem der o primeiro passo na direção do marketing 3.0 estará mais perto de entregar o que verdadeiramente procuramos, pois embora o consumidor adore a tecnologia ao seu redor, ainda procura sinceridade e satisfação nas suas compras e ainda privilegia boas relações humanas.

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.