Produção de celebridades

sábado, 31 de julho de 2010

Vivemos numa sociedade de celebridades. Fabricamos famosos de cinco minutos numa velocidade imensa, os quais são esquecidos de forma ainda mais breve do que são alçados ao posto de figurinha do minuto.

No processo de criação de mitos, contradizemos muitas vezes nossos valores e ocupamos um tempo de mídia precioso com isso, ou seja, com nada.

As revistas de fofoca continuam vendendo mais que qualquer outro tipo de produção. A mídia continua a produzir conteúdo duvidoso de forma a assegurar a qualidade solicitada por nós (por mais que nós não nos inclua!).

O imperador romano Vespasiano disse, quando da construção do grande Coliseu: “dê pão e circo para o povo”. Desde a Roma antiga vivemos desta forma, e culpar a mídia é no mínimo irresponsabilidade.

A mídia é o retrato de nossos valores, não o inverso. A mídia é movida por patrocinadores: os anunciantes. E o que eles mais querem são espectadores, ouvintes, leitores, gente...

Assim a produção de conteúdo advém da busca do acerto ideal de conteúdo capaz de aglutinar o maior número possível de pessoas interessadas no fato; e se celebridades são um fato, tome celebridades e se os enfoques tolos são a maior atração, vamos aos enfoques bobos.

Independente de julgar a condução do processo, vejamos o caso da estudante de microvestido na Uniban, em São Paulo. Essa situação, mais uma vez, demonstra bem como qualquer um pode se tornar uma celebridade, com todo brevidade que o ‘cargo’ propõe, da noite para o dia.

O curioso é que somos alçados a este posto, socialmente ambicionado por muitos, não por feitos heróicos – Salvar alguém? Esquece! É preciso fazer algo que seja, minimamente, insensato, como usar um microvestido rosa numa sala de aula, tão micro que os próprios estudantes (jovens e com os hormônios à flor da pele) acharam completamente inapropriado.

Rapazes e moças do BBB, dançarinas de Axé, estudantes de microvestidos e outros personagens folclóricos que se tornam mantendo distancia dos livros e da conduta esperada e desejada pelo todo, são os queridinhos eleitos para serem celebridades efêmeras, com direito a ensaios fotográficos em revistas masculinas e entrevistas nas revistas de fofoca.

Chamam isso de marketing, a autopromoção a qualquer custo, obter um reconhecimento no seu ambiente ou em um ambiente de mídia, ainda que por meio de algo nada adequado para contar aos próprios filhos, mas garanto, isso não é marketing. Marketing presume o bem, presume que se possa explicar o porquê e o como, marketing não envergonha, constrange ou menospreza espectador ou candidato a celebridade.

Estamos vivendo tempos difíceis, tempos de celebridades.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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