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Pior que fica!
Estamos em meio à campanha política, mas poderia ser também uma campanha publicitária anunciando a chegada de um circo, pois, na maior parte do tempo, seria absolutamente pertinente, dada a vasta variedade de personagens, que se não fosse trágico, seria cômico.
O tratamento desleixado dado à política por parte dos partidos, que recebe e incentiva candidatos despreparados e interessados em emprestar seu duvidoso prestígio e reconhecimento público em troca de mamatas e garantias salariais, se reflete de forma intensa no descaso de parte significativa do eleitorado, que, em detrimento ao interesse comum, vota alinhado aos seus exclusivos interesses, baseado inclusive em favores pessoais e promessas de recompensas ilícitas.
Num país onde os índices otimistas admitem mais de 20% de analfabetos funcionais, que se somam aos analfabetos diplomados, informação e julgamento são luxo, puro luxo. Espetadas, saladas de frutas, forrós, peixes e outras alegorias eleitorais estampam nos vídeos com tempos privilegiados, pois os partidos sabem da capacidade que o voto de legenda tem de arrastar outros candidatos menos famosos e, espera-se, minimamente preparados.
Na opinião de qualquer alfabetizado funcional, no qual eu orgulhosamente me incluo e ao senhor(a) leitor(a), campanhas como a do candidato paulista Tiririca fere ao decoro parlamentar, social e econômico. Fere pela maneira achincalhada como trata o seu próprio cargo pretendido, pois admite não saber o que faz um deputado federal; aleija o decoro social, pois transforma o processo eleitoral num baile de forró, no qual até Clementina teria vergonha de ter sido cantada sem verso e sem prosa, e por fim nocauteia o decoro econômico, pois admite que pretende resolver problemas econômicos de sua família através do mandato.
Em meio a reboladas, vestido de palhaço, conduz de maneira impecável uma campanha voltada para eleitores que igualmente não levam a sério o processo político. Encarnado em seu personagem, sabe que sua notoriedade e seu descaso são as armas para obter uma legião de eleitores, e seus votos não só garantirão sua eleição como facilmente de uns outros cinco no arrastão da legenda (acredite, deve fazer algo em torno de um milhão de votos!)
Seguindo a cartilha do marketing, o candidato alivia a pressão sob seus potenciais clientes, ou melhor, eleitores, e em seu slogan anuncia: “Vote em Tiririca, pior não fica!” ...ah fica! Fica e fica fácil. Na medida que a população perde a fé e o respeito próprio, está montado o cenário para outros oportunistas e a replicação se instala, em que cada vez mais partidos buscarão titicas eleitorais e montarão suas bancadas baseadas na preferência de escolha dos consumidores, e caberá, mais uma vez, a nós reclamar de nós, não dos políticos.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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