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Paradoxo chinês - 17 de novembro 2011
Enquanto a Brasil segue como o gigante adormecido, a China é o verdadeiro gigante acordado. A China está para virar o maior país de língua inglesa do mundo, pois a parte da população que domina a língua inglesa será mais que toda a população dos Estados Unidos. Prestes também a ser a maior economia do mundo, e o maior em muitas coisas, mas o mais impressionante é que não é candidato a maior consumidor do mundo.
Apesar de sua imensa população, a China, não tem consumo interno alto. Fruto da pobreza, da concentração de renda, mas principalmente fruto da cultura. Consumo, expectativa e desejo, são valores que transcendem a definição de necessidade; consumir é um ato muito mais social do que de vocação. Com uma poupança interna que não para de crescer, a riqueza da China, vai se acumulando na própria China, permitindo que o país cresça de forma mais sustentável e evitando que a falsa necessidade seja produzida.
Sem um sistema que provoque o consumo interno, grandes marcas sofrem com o desprezo do chamado consumidor. Barbies, Bobs Esponjas e Nikes seguem sem fazer sucesso entre os chineses que olham e veem apenas tênis ou estereótipos de belezas que nem de longe representam uma verdade ou um desejo deles.
O que a nós parece óbvio, necessário e/ou desejoso, ao chinês comum não representa nada que valha a pena abrir mão de seu dinheiro guardado. Enquanto aqui pagamos duas vezes, na forma de juros, por um bem que acreditamos ser indispensável à nossa prosperidade e felicidade, lá ainda não se consegue fabricar desejos ou implantá-los artificialmente através da comunicação de massa. Pelas mãos fortes do governo, o chinês segue acreditando que felicidade não passa pela prosperidade e muito menos por um checkout.
Neste ponto alcançamos um conceito interessantíssimo que nos leva a pensar sobre o que nós queremos, almejamos, desejamos, se é tão natural assim, ou é tudo fruto de valores que foram plantados em nossos corações e mentes. Por que aqui queremos ir à Disney, a Paris, ter um Nike, um carro zero, sermos magros, seios grandes etc., e lá ter poupança, comer arroz, casar, e na Tailândia, na tribo de Karen, o que se almeja são pescoços compridos?
Notoriamente o consumo não é nato, como muitos acreditam, ele é uma realidade plantada, muito bem enraizada. Uma entre tantas outras realidades que temos que conviver e sempre questionar.
Comprando marcas, produtos, serviços e sonhos que não são nossos, mas que tem enorme respaldo e eco nos grupos sociais que convivemos ou influenciamos, tostão a tostão vamos minando a poupança, comprando cada vez mais as quinquilharias e produtos fabricados na China.
No modelo atual quem não for forte e questionador terá toda uma vida dedica a comprar o que não se quer e não se precisa, com um dinheiro que não se tem, para se mostrar, para uma gente que não se gosta e não se conhece, uma pessoa que não é, e acredite, quem terá fabricado isso, terá sido um chinês, em breve com mais dinheiro no banco do que nós.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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