Orgulho de servir

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Vivemos em uma sociedade de consumo. Assim, onde há consumo, há quem consuma. E para cada um que consome, há no mínimo um que sirva. Nesta matemática, se as pessoas não tiverem prazer e felicidade em servir, teremos uma legião de infelizes. A pergunta é: teremos ou temos?

Servir é atender, é satisfazer, é permitir que o processo de obtenção do objeto ou do serviço tenha êxito, não apenas em sua consequência, mas também em sua causa, ou seja, o processo que permite deter ou usufruir de tal bem ou serviço é tão ou mais importante que o próprio bem ou serviço.

Vivemos numa sociedade onde muitos parecem crer que servir é feio, desonroso ou hierarquicamente inferior, mas vamos aos fatos: feio e desonroso é fazer, qualquer que seja sua função, mal feito. Feio é um presidente da república ir para TV e mentir descaradamente que não sabia de nada que acontecia em sua base comprada governista ou em sua principal estatal. Não há nada de feio em ser o melhor vendedor, o melhor professor, o melhor lixeiro, o melhor enfermeiro. 

Vivemos com uma inversão de valores que confunde o próprio mercado. Muita gente querendo ganhar muito e trabalhar mal, muita gente criticando os outros e olhando pouco para si, muita gente querendo ser bem servida e prestando um serviço ruim.

Onde está o prazer e o orgulho de servir? Alguns vão responder que estão escondidos atrás de salários ruins e pouca perspectiva, e eu pergunto: trabalhar mal vai, de fato, permitir alguma mudança em sua vida ou na empresa em que trabalha? Matar o prazer de servir abrirá portas para uma nova vida melhor?

Servir bem, mais que um ato de consciência, é um ato de inteligência.

Até quando as pessoas vão continuar insistindo que cabe aos outros mudarem suas próprias vidas? Até quando quem serve vai insistir em fazer isso com complexo ou frustração?

Já fui um pouco de cada coisa. Já fui garçom, vendedor de loja de shopping e de rua, carregador de equipamento de som, DJ. Já trabalhei em banco, comércio, transportadora, indústria, empresa de tecnologia e o que sempre fui, em qualquer que fosse o meu trabalho, foi orgulhoso de fazer o que fazia. Não que isso espelhasse conformação ou promessa de passar o resto de minha vida desempenhando tal função, mas enquanto exercia a função, buscava fazer dela a melhor função, com o melhor desempenho, e todas elas traziam em comum o entendimento que ali estava para servir. Eu amo servir.

Vendedores, políticos, motoristas, garçons, médicos, jardineiros, somos todos profissionais, exercendo funções que existem e só existem para servir, quer seja a seus consumidores, clientes, pacientes, eleitores. Somos todos serviçais. 
Precisamos romper com o ranço e peso da palavra serviçal e redimensionarmos nossa capacidade e prazer em servir.

Ter um cliente saindo do restaurante encantado com o serviço, com a comida, com a experiência naquele restaurante. Ter um consumidor encantado com a qualidade de atendimento de um vendedor que passa pelo approach, sondagem, informações sobre o produto, pagamento, garantias e termina, momentaneamente, no acompanhamento até a porta da loja, é sim, motivo de orgulho para o chef, garçom, vendedor, caixa, equipe.

Servir é preceito de qualquer bom profissional, e o prazer e o orgulho do que se faz são sentimentos obrigatórios para qualquer função. Quem não sabe servir, não valoriza quem lhe serve, a quem serve, o que faz e nem mesmo quem é.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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