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O mundo não está ficando gay, mas sim chato
Na última sexta o Facebook resolveu celebrar mais uma conquista dos direitos civis nos Estados Unidos com um aplicativo que coloria os perfis. Acho uma conquista importante no quesito ao respeito e defesa dos direitos civis, mas eu não vou colorir meu perfil.
Nitidamente a maior parte dos perfis pintados não compreendia a natureza da conquista, fazia isso porque é legal ser descolado, porque vivemos num mundo que não se pode mais ter a própria opinião, mas tão somente a opinião que esperam que tenhamos.
A comunicação vem cada vez mais definindo comportamentos, de forma discreta e maciça, padrões são cada vez mais celebrados, padrões que não refletem quem somos individualmente, mas quem deveríamos ser coletivamente, ou, principalmente, alguém capaz de cultivar novos comportamentos e assim comprar novos produtos e serviços, sejam eles físicos, culturais, gastronômicos, sociais etc.
Nessa briga por novos mercados, mercados formados por massas igualadas e manobráveis, é inegável que crianças, adolescentes e jovens são mais suscetíveis a essas pressões.
Diante disso, crianças estão cada vez mais vulneráveis à mídia e os adultos cada vez mais chatos, sonsos e cínicos.
O sexo, e suas muitas derivações, virou mais do que o tema da vez, virou tema de vez. Excesso de visibilidade, excesso de exposição, excesso de detalhamento. O que era educação sexual está virando falta de educação! Deixou de ser uma decisão e valor do indivíduo para cair na prateleira de consumo, com muitas versões e possibilidades.
É curioso como coisas comuns viraram problemas e problemas viraram coisas comuns.
O sexo foi banalizado, que outrora era convento, matança, desonra... Na outra ponta a implicância na escola foi nivelada ao status bullying, a cantada no trabalho virou assédio sexual, o chefe exigente agora assedia moralmente...
Bullying é algo muito grave, mas muito diferente de uma perturbação de criança. Quantas pessoas se conheceram no trabalho e se casaram, era um tempo onde nem tudo era assédio sexual. Quem trabalha há anos e que não já tomou uns belos puxões de orelha e nem por isso está frequentando tribunais e psicólogos. As piadas hoje são sussurradas, porque são politicamente incorretas, e qual a graça do politicamente correto? Aliás, política e incorreto é pleonasmo... Ops, isso é uma piada.
O que falar do meio ambiente, aliás, agora é ambiente, “meio” pega mal. Todos somos preocupados com o meio ambiente, a mídia massacra quem não for, mas pick-ups e viagens de avião, que despejam muito CO2 na atmosfera, são vendidas aos milhares. Produtos descartáveis inundam prateleiras e coleções de estações guarda-roupas. Na fila do banco todos querem ter mais de 65 anos, mas nos consultórios de cirurgiões plásticos todos querem ter 20. Mundo complicado!
Consumimos produtos sem conhecer a origem, sem saber se tem trabalho escravo, trabalho sub-humano, matéria-prima extraída ou manipulada de forma irregular, mas postamos na rede social (dá muito menos trabalho que ir às ruas) pelo fim do trabalho infantil e a favor dos ursos pandas e baleias.
O mundo anda muito estranho, são tantos comportamentos contraditórios, o consumo nos empurra a ter cada vez mais, e a natureza tão nossa amiga, em redes sociais e nas conversas entre amigos, clama por cada vez menos. Mas o que importa? Cada vez mais colorimos perfis, cada vez mais repetimos a opinião dos outros, e num mundo onde os adultos usam apenas a opinião dos outros, às crianças não restará nenhuma, exceto a que a mídia produzir, ora colorida, ora preta e branca, mas sempre, sempre chata, morna e que atenda a interesses bem maiores.
“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”
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