O complicado é que é melhor

quarta-feira, 18 de março de 2015

Normalmente quando alguém é perguntado sobre o que é melhor: fazer algo simples ou algo complicado, ouço sempre a resposta: "Simples!”. A resposta vem em tom entusiasmado e convicto. Todos querem um lugar ao sol, com filtro solar, água de coco e mar calmo.

O grande problema do simples, do fácil, do básico, é que qualquer um, dotado ou não de neurônios funcionais, comprometido ou não, é capaz de realizar, e aí, o óbvio vira barato, pois o critério de escolha de quem realizará tal tarefa óbvia é o preço.

Nesta lógica empresas, prestadores de serviço, colaboradores, todos querem apenas fazer o que é simples, ficando uma imensa lacuna no mercado de quem resolva o que é complicado.

Sou um apreciador de vinho, nenhum enólogo, mas gosto de vinho, e por diversas vezes tentei comprar vinho em lojas por aqui, sempre escolhendo e solicitando entrega, e sempre ouvi de três lojas que a entrega é complicada, pois existem riscos. Assim, assumo que desisti, achei uma empresa que ama o complicado e faz dele algo simples. Compro pela internet com preços por vezes mais baixos e com entrega em sete dias na minha casa, com direito a brinde e dicas de consumo. Como uma cidade tão pequena e segura, comparada às cidades de porte semelhante ou de porte maior, pode considerar a entrega algo difícil? É inércia do simples, do óbvio. Erra quem acha que é custo, pois processos que se originam no cliente são puro investimento, além de ser diferenciação da concorrência.

Considerando a possibilidade de que você, leitor, gosta, simpatiza, aprecia e se interessa em ganhar dinheiro, é preciso dedicar-se ao complexo, ao difícil, ao risco, ao improvável e, principalmente, desenvolver formas de torná-lo simples e rentável. O óbvio não pode mais ser reinventado; além de possível de ser executado por qualquer um, não há mais como ganhar dinheiro com o óbvio.

Vencida a crença de que não é possível prosperar na simplicidade, o caminho para prosperar é aquele que se choca e se vive com a dificuldade! Assim, clientes exigentes são excelentes, lideranças e mercados exigentes também, pois nestes há a chance de fazer algo que ninguém mais pode fazer, ou de uma forma que ninguém mais pode realizar, ou num prazo que ninguém mais pode executar e num preço (mais alto) que todos desejariam realizar.

A criação de valor é um caminho inquestionável para isso. Tal valor pode ser intrínseco à marca, à emoção, à vivência, à crença, ou simplesmente à execução!

Assusta-me toda vez que alguém que vende algo, fabrica algo, serve algo diz que não pode fazer diferente em vez de apegar-se à oportunidade e precificar de forma diferente e aproximar-se de forma marcante do seu cliente. A insistência no simples que já é simples é persistir no pouco dinheiro vocacionado a nenhum.

Sempre que algo tange ao comparável, o critério de desempate é diretamente relacionado a preço: se faço a mesma coisa, da mesma forma (aos olhos do cliente, sem gerar valor a ele), meu cliente escolherá por preço, e quem vende preço não ganha dinheiro, não é capaz de inovar, melhorar, prosperar...

Da próxima vez que alguém falar, ou mesmo que você pressentir, que há algo difícil a ser realizado, grite e assuma pra si, pense em quanto estará se diferenciando e quanto de dinheiro isso pode trazer, o complicado sempre será melhor!


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunica


TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.