Natal e marketing - 22 de dezembro 2011

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Faz tempo que o Natal ganhou uma turbinada. Muitas renas, floquinhos de neve, pinheiros e bolinhas coloridas. Cada vez mais, a paisagem desértica de Nazaré e o celeiro cedem presença a algo mais vibrante e mais colorido. O Menino Jesus na manjedoura é bem menos style do que o bom velinho no veludo vermelho, cinto na moda e saco cheio, vendendo prosperidade depois de um ano inteiro de batalha.

O poder da comunicação transformou e permanecerá transformando o Natal num grande show do consumo. Enquanto a cadeia produtiva se alimentar deste apelo, essa lógica estará instalada como verdade.

Na verdade o Natal, comercialmente falando, é a recriação do processo de consumismo, restrito ao período de um mês. Mas tudo que fazemos ao longo de toda nossa vida, dentro do consumo, aprendemos no processo do Natal, ou melhor, o processo do Natal é um êxito de consumo, pois recria o que tem de mais natural em nós, levar vantagem!

Vamos aos fatos: Papai Noel é um absurdo! Gordo daquele jeito já teria feito uma cirurgia de redução do estômago e já teria sido desenganado por endocrinologistas, aposentado por cardiologistas, e processado por construtoras por ter destruídos os telhados. Com tantas limitações psicomotoras (pois sofreria de bullying—velho e gordo) o tal ex-hippie (Woodstock, será?!) certamente deveria ser preso por dirigir sem habilitação um trenó (pois o Detran não teria renovado sua carteira no exame médico e todas as exigências do novo código de trânsito), o que é pior, fazendo uso de animais importados ilegalmente da Lapônia, enfim é desrespeito a lei o tempo todo.

Como vemos, são tantos absurdos que é inimaginável crer que seu filho ou neto aceite uma história tão descabida assim. Então, por que o Natal funciona?! A palavra chave é r-e-c-o-m-p-e-n-s-a. A criança é recompensada. Neste mundo de faz de conta, se há recompensa, há perdão e cumplicidade, a criança cala e não questiona esses veadinhos voadores e tio vestido na barba postiça e travesseiro na barriga, porque o presente está no saco vermelho em suas costas.

Anos mais tarde, crescemos temos no consumo mais que suprimentos para nossas necessidades. Encontramos alternativas que acalmam e completam nossos desejos. Nos tornam invencíveis, irresistíveis, mais inteligentes, mais in, mais out, mais rápidos, mais, mais mais...neste jogo de amplificações e criação de qualidades e que silencia e esconde defeitos, o consumo altera personalidades através de campanhas publicitárias e slogans bem-formados, no mesmo jogo fantasioso de Papai Noel, onde todos que estão dentro sabem da farsa, mas todos silenciam, pois são também recompensados.

No meu carro novo, meus problemas são os velhos de sempre, mas aos olhos de quem me vê, sou mais feliz, isso acalma, agrada e recompensa. Calado, sigo no carro, como a criança que ouvia as lorotas de Papai Noel.

O imaginário coletivo já assimilou o bom velhinho. Sob o álibi de satisfazer necessidades das crianças, e nossas próprias necessidades (de desejos), a compra corre solta, no cartão de crédito correm os juros e a gente corre pro abraço. Viva o bom velhinho, viva o consumo. Como penetras, somos quase sempre convidados para a festa de aniversário e já não sabemos mais nem de quem, como chama mesmo?!...Acho que é Jesus... Não tenho mais certeza, mas o Noel, é pai dele, isso eu posso jurar.

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