Muito trabalho

quinta-feira, 01 de maio de 2014

Neste dia 1º comemoramos o Dia do Trabalho e, sendo assim, nada mais pertinente do que traçarmos algumas considerações sobre o trabalho e todos os desdobramentos que este traz ao marketing.

O Brasil ainda é muito ineficiente em termos de trabalho, embora trabalhe mais que o americano ou europeu médios. O brasileiro trabalha pior e ganha ainda pior.

Este círculo vicioso resulta em problemas nas duas pontas do consumo. Em nossos múltiplos papéis na sociedade, somos diretamente atingidos pela realidade de um trabalho de qualidade ruim. De um lado, inibimos o consumo pela precariedade do resultado do que fazemos, produtos e serviços ruins não pouco atraentes para consumir e, na outra ponta, desaceleramos o consumo pela limitação de renda ofertada ao trabalhador, que realiza um trabalho de má qualidade. Pouca renda é igual a pouco consumo.

Não nos falta capricho, nos falta capacitação. Não nos falta esforço, nos falta qualificação. Não nos falta dinheiro, sobra taxação sobre o emprego e sobre o salário. Nosso sócio compulsório, o governo, é guloso, compulsivo e endividado.

Nesta verdade, o empresário convive com custos recordes de mão de obra e os colaboradores limitados por cargas tributárias que desconhece, mas que onera o trabalho, o salário e limita seus benefícios.

Essa ciranda aponta novamente para a restrição do consumo, na medida exata em que a perda de poder de compra do trabalhador sustenta a farra do governo em seus diversos níveis e esferas.

Falar em trabalho e consumo nos obriga a falar também sobre formação, especialização e treinamento. O brasileiro padrão tem formação ruim, não acredita em treinamento e entende que especialização reduz seu poder no mercado. Assim, enquanto o mundo melhora seus índices de produtividade e de consumo, o brasileiro cresce a taxas menores do que nos países que já detêm altos índices de produtividade e, portanto, apresentam menor capacidade de melhorar. Quando olhamos para países em desenvolvimento, como China e Coreia, levamos uma verdadeira surra.

O consumo para ser pleno precisa de consumidores com renda proporcional ao seu trabalho. Mas para alcançar renda precisa obter formação de qualidade que o torne alguém capaz de gerar riqueza para seu negócio ou empregador.

Enquanto o mundo investe em formação técnica e na graduação baseada em pesquisa e especialização, o Brasil segue na contramão e investe em formação generalista de terceiro grau para estudantes sem base e sem competitividade, e deixa um enorme gap na área técnica, onde salários podem facilmente ultrapassar os proventos de um trabalhador comum de nível superior.

A veia empreendedora do brasileiro não está estruturada em pesquisa de mercado, especialização ou profissionalização. Quase sempre se origina da ausência de opção ou do sonho de não ter chefe. Assim, quase sempre os ranços de empregado se reafirmam no negócio próprio, o que por vezes condena o recém-empreendedor a uma perspectiva limitada financeiramente e delega baixo impacto sobre novos negócios e prosperidade social.

O Brasil tem pouco a comemorar neste Dia do Trabalho. O mercado tem necessidades sem atendimento e sem solução de curto prazo. Quase tudo hoje depende de mudanças estruturais e culturais que demandam planejamento, tempo, persistência e informação — quase tudo que não somos acostumados a buscar, ou que não julgamos como prioridade.

Se olharmos para 1º de maio como um dia do trabalho, comemore-se, então; nossos dias de peão ainda serão longos e duradouros, mas se quiser ver que este dia é para repensarmos o que o trabalho pode fazer por nós, exige uma contrapartida que é o que nós podemos fazer pelo trabalho e exige também enorme empenho para obtermos comportamentos adequados a todo o trabalho que ainda está por ser feito do modo certo.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração

e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular

da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação 


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