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Monólogo do mudo!
Em toda eleição inicia-se uma campanha vigorosa pelo voto nulo. Radicais, descontentes, descrentes e ignorantes esbravejam aos sete ventos que a solução passa por uma votação nula e maciça, de modo a convocar nova eleição, retirando do pleito os candidatos anteriores ou de forma a suprimir a legitimidade do eleito, mas na prática tudo que se consegue é deixar para os outros a decisão de para onde vamos todos.
Votos brancos e nulos na prática vão todos para a mesma lata, aquela que todos temos em casa, chamada lixo! Quer seja nulo, quer seja em branco, ambos os votos são desconsiderados, não sendo somado à legenda, coligação ou partido e são simplesmente descartados, ainda que sejam 99,9% dos votos, a eleição terá um vencedor e será empossado sob a forma da lei.
A exceção é que, e daí vem o ruído, se o candidato que receba mais de 50% dos votos for impugnado após eleito, transformando os votos obtidos por ele em nulos, aí e somente aí, teremos nova eleição.
Deste modo os maiores interessados no voto nulo ainda são os políticos, àqueles aos quais se pretende atingir, pois usam sua massa de manobra e suas promessas aos ignorantes, para se reelegerem, em sua maioria, e eliminando os pensadores do pleito.
De fato tem hora que pensar parece nos deixar sem opção, mas o jogo é para ser jogado durante noventa minutos, ou seja, durante a eleição, na urna, e quando empossado. Temos que estudar, votar consciente e manter cobrança próxima ao eleito.
Votar nulo não faz qualquer diferença, ao menos se o objetivo for melhorar uma eleição, não se consegue uma nova eleição, mas faz com que alguém menos legítimo seja o escolhido, o que só piora o clima político, e diminui de forma assustadora a cobrança do eleitor, o comprometimento do candidato e dá ao eleito muita liberdade de fazer apenas o que quer.
Votar nulo é o exercício mais fascista da democracia por que tende a perpetuar no poder quem já está, é a conduta mais anárquica de um estado amadurecido, por que subverte o propósito de um direito, votar nulo é transformar a cidadania em um ato de irresponsabilidade, é acovardar-se no uso do voto.
A grande jogada de marketing (do mal) é que a estratégia da reverberação do voto nulo é a legitimação dos nomes fortes da política, por mais controverso que possa parecer, é a reeleição dos nomes que tanto dizemos não querer; porque os políticos tarimbados, estes não têm simples eleitores, eles possuem em sua maioria fãs, ou seja, pessoas que votam neles sob quaisquer condições, então, os nomes politicamente fortes e ainda que rejeitados, são os que mais ganham na campanha do voto nulo. Nesta lógica, quem vota nulo entrega a chave do cadeado ao bandido, deixa que seus cúmplices o elejam e por não votar, o então eleitor, torna-se espectador de seu próprio filme, plateia de sua própria peça, figurante em sua estreia e mudo em seu próprio monólogo; monólogo esse que podemos prever—serão quatro anos, falando sozinho que não votou no infeliz, naquele infeliz que agora decide os destinos de sua cidade, patrimônio e futuro.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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