Mídia – fábrica de idiotas - 14 de abril 2011

domingo, 31 de julho de 2011

Um dos esportes que tenho praticado é fuga da mídia. Isso dá uma canseira absurda, apesar de fazer muito bem ao corpo, pois me obriga a fugir de atividades sedentárias como receber conteúdo da mídia passivamente. Mas é devastador para o espírito, pois sou recorrentemente derrotado, já que a mídia consegue se infiltrar e alcançar meu cérebro, ou o que restou dele, de alguma forma.

Mesmo sem ver um único episódio de BBB não consegui passar ileso; fui obrigado a ouvir pessoas comentando sobre os heróis tolos de uma sociedade desfocada, e fui contemplado, vejam só a ironia, com a companhia de todos os eliminados na mesa ao lado num restaurante de um renomado hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que coincidiu com um evento do setor rodoviário, e onde pude assistir a tietagem de pessoas acima de qualquer suspeita.

Agora estamos vendo a criação de outro herói, o débil e covarde assassino de Realengo. A notoriedade que este acéfalo desgraçado está ganhando é inaceitável. Sua foto, pedidos, vídeo, tudo divulgado; sua personalidade estudada, sua vida levantada, toda a mídia dando ao doente toda a evidência que tanto desejava, e o que preocupa, transformando-o em herói para uma legião de débeis como ele. Não será isso um gatilho para novos anormais?!

Num mundo que tanto valoriza a mídia, este mundo capaz de alçar idiotas de físico artificial, rostinho bonito e alma pequena ao status de celebridade, não será perfeito para produzir covardes como este e recompensá-los com notoriedade, como em seus maiores sonhos?!

Apesar de meu treinamento pesado de fugir da mídia e de minha incompetência em conseguir êxito, pois as informações chegam a mim de todas as formas, a qualquer hora, reconheço que seu papel — da mídia — é tão e somente só, dar circo a quem quer circo, já que pão o governo cuida.

Os jornais que deturpam a tragédia e a exploram não são os grandes culpados de tudo isso, mas sim nós que respondemos com atenção, dedicação e com audiência a cada uma dessas ações. O espetáculo da dor do próximo, a curiosidade mórbida e o intenso alívio, no estilo “antes ele do que eu”, norteiam comportamentos que fazem a mídia seguir a nós como cordeiros em um rebanho, ou seria mais apropriado, como urubus atrás de carniça.

A inversão de valores ao se evidenciar o monstro, a exploração da dor da vítima e não o tributo a ela, o oportunismo de provocar a histeria coletiva questionando a segurança das escolas — todo o circo de adoração é perfeito para se produzir mais doentes covardes que acreditam ser um destino muito mais digno e glorioso a bajulação da mídia do que aquele que suas vidas miseráveis serão capazes de produzir.

O bem sempre vence o mal, e sempre vencerá, mas a mídia definitivamente, se não se alimenta da maldade, comunga desta dieta, e a audiência, sem nenhuma dúvida vive de observar, comentar e assistir passivamente a maldade, a tragédia e respira o ar do alívio de estar intacta ou no caso de vítima se assiste na estúpida crença de que o mundo está com pena dela, mas o que o mundo quer é circo, só circo.

A mudança da mídia depende tão somente de nós, em não assistirmos, em não adorá-la, em não alimentá-la. E então pararemos de fabricar idiotas, corpinhos artificiais e covardes e teremos entre um zapear e outro, entretenimento, cultura e informação.

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