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Mídia e Imagem - 10 de fevereiro 2011
Indiscutivelmente temos que admitir – Nova Friburgo ficou internacionalmente conhecida!
A cobertura dada pela mídia durante a devastação ocorrida na Região Serrana foi implacável. Todos sabem agora onde ficamos, ou, na versão da mídia, onde ficávamos.
Como ex-carioca que sou, muitos amigos e familiares, desesperados com as notícias da mídia e diante do isolamento experimentado nos primeiros dias (o qual ainda persistente até hoje para alguns), acreditavam que nossa cidade havia desaparecido. Nos primeiros contatos, as pessoas acreditavam não haver mais nenhuma casa de pé, nenhum bairro imune, nada mais em qualquer lugar.
É indiscutível a seriedade do acontecido, é lamentável o ocorrido, mas a ferocidade, parcialidade e volatilidade da mídia são igualmente impressionantes.
Ferocidade porque tem muita força e muita capacidade de levar a todos a informação eleita por ela, transformar o que não importava a quase ninguém em prioridade. Sua força veio em forma de donativos, tamanha a comoção capaz de causar.
Parcialidade, porque fala apenas do ponto de vista elencado como prioridade. No melhor estilo “carta marcada”, enaltece-se a tragédia, demonstra-se algumas superações, trabalha-se no limiar da emoção, algo nos extremos da “perda total” e da “superação total”, é importante manter a informação quente, mui caliente.
Chega-se a volatilidade, a mais cruel das características da grande mídia, porque está sincronizada em uma série de comportamentos que inclui a chegada em arrastão, a saturação do assunto e o esquecimento total em seguida. Depois de Nova Friburgo, teve Austrália, Cairo, outros que já esqueci e assim vai. O que fica? Friburgo dizimada, Austrália encharcada, Cairo em convulsão, e a notícia sempre acaba antes do problema, e a notícia nunca volta para resolver o problema, ou para mostrar que o problema acabou.
A notícia não tem compromisso com a verdade, com a melhoria ou com o aprendizado. Apenas com a nossa natureza de nos confortarmos com os problemas dos outros, assim, quanto mais problema, maior a sensação de que está tudo bem conosco. Cada vez mais a mídia transforma a felicidade em um bem comparativo, menos importa como estamos, mas sim como os outros estão.
O fato é que precisamos da mídia, mais do que nunca. Nova Friburgo agora tem, o que chamamos em marketing, Demanda Negativa, ou seja, o mundo não quer vir aqui. Aqui é feio, é mal, é perigoso. Antes vivíamos sobre a colocação da demanda inexistente, pouco turismo e pouca opinião a respeito, mas agora, agora a casa caiu, literalmente.
Precisamos reconstruir nossa imagem, dizer para todo mundo que estamos de pé, que somos melhores agora, que nossa cidade está se reerguendo e se tornando um lugar ainda melhor. Precisamos usar nossas etiquetas de produtos para dizer isso, nossos sites, nossos carros, temos que virar isso, temos que chamar a mesma mídia, usar as relações pessoais que foram criadas com a mídia, criar fatos, criar histórias de superação para que ela se interesse e possamos reverter o dano feito por ela mesmo.
Temos que jantar com o inimigo, senão não teremos nossa imagem refeita e muitos segmentos do próprio turismo e economia que não foram atingidos na madrugada de 12 de janeiro serão soterrados lentamente em dívidas, ostracismo, descrença, e os afetados jamais terão a chance de se erguer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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