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Marketing padronizado
Há muito se ouve falar em customização, processo de fazer sob medida, sob encomenda, focado em demandas específicas. Parece uma grande novidade, mas depois de uma massificação da massificação (me perdoem o trocadilho) o conceito de customização parece invenção nova, mas é anterior a qualquer base do marketing.
Em meio a esta legião de clientes há os que buscam diferenciação, os que preferem produtos exclusivos e há os que o fazem porque, mais do que desejar, precisam de produtos distintos para satisfazer necessidades especiais. De modo geral o mercado da customização aplicado ao status vai bem, gerando grandes progressos; mas e a diferenciação aplicada à necessidade, quando o mercado vai acordar para esse potencial de demanda latente?
Responda caro leitor, quantos botões do controle remoto de sua TV você domina? E quantos de fato usa? Por que a indústria não vende uma TV, vinte reais mais cara, e não coloca um segundo controle (que custa cinco reais no máximo) simplificado? Sim, um controle com comando de canais, volume e liga e desliga, com a capacidade de memorizar de forma simples os seus cinco canais preferidos, ou vai dizer que assiste os seus 70 canais da TV a cabo? E que tal este controle ter botões garrafais e que acender no escuro?!
Falando em garrafal, quando o mercado vai parar de sofisticar os celulares e simplificá-los e colocar botões enormes e toques altos para uma multidão de terceira idade que não quer sofisticação, mas simplicidade e sobre tudo visão!? Touch screen é muito complicado para quem não tem mãos tão firmes e tato tão sensível, e principalmente quem não tem ou não quer se ajustar a novos conceitos.
Que navegação na internet que nada, viva o flip e botões grandes, longe um do outro e uma tela que escreva as informações grandes, não necessariamente um monte de informação.
O que dizer de roupas, que acreditam que todos têm o mesmo corpo, todo alto é gordo, todo baixo é magro, todo pé pequeno é chato, todo pé grande é redondo... até quando irá persistir a média que não representa ninguém? Uns de camisa larga, outros de camisa apertada e ninguém confortável... Na média, só a insatisfação!
Nesta lógica existe o mercado de canhotos, de altos, de solteiros, de casais sem filhos, etc. Parece permanecer um grande hiato na indústria, comércio e na prestação de serviço, no que tange a visualizar o mercado como algo que de padronizado, somente a falta de padrões. Há muitas demandas a serem satisfeitas, muitas necessidades a serem investigadas, promovidas e saciadas. Ainda há um foco muito grande em fazer o que já está sendo feito e pouco foco em questionar o que se faz.
Crer que nós, complexos como somos, competitivos como somos, insatisfeitos como somos, podemos ser simplificados e resumidos a padrões estereotipados e comparados a todos os demais é um enorme erro. Se temos detalhes tão únicos como digitais, íris e ondas elétricas de nossos corações, não vamos querer ou poder ser iguais em coisas tão mais visíveis como as que o mercado de consumo nos proporciona. Vive la différence!
“Roberto Mendes é publicitário, especialista
em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência
da PUC-Rio, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação”
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