Marketing e catástrofe - 12 de janeiro 2012

sexta-feira, 06 de abril de 2012

As catástrofes estão se tornando uma grande oportunidade de mercado; governos, empresas, ONGs, mídia, todos faturam alto com as catástrofes, enquanto pessoas, famílias, empresas e sonhos são inundados, soterrados, destruídos.

A emergência gera uma comoção, uma atenção, o jornalismo depende de notícias para viver e temas catastróficos trazem aos telespectadores, leitores e ouvintes comoção, revestida de todo o resguardo que uma poltrona proporciona e uma sensação de imediato alívio; afinal, enquanto ser passivo da mídia, percebemos como é bom não ser notícia neste caso.

A cobertura da mídia nacional, ano passado, mostrou como a notícia parece maior e menor, ao mesmo tempo, que o fato. Pela notícia parecia que a cidade sumira do mapa. A sensação que nenhum bairro, nenhuma rua havia escapado, ao mesmo tempo, nenhuma tela conseguia dar a nós a menor proporção da dor que sentíamos, não havia imagem que parecesse consolar nossos olhos.

Com o circo armado, até mesmo governos honestos se interessam por catástrofes, afinal, ganham mídia, muita mídia. Revistas, jornais, emissoras de TV, de rádio, locais, nacionais e internacionais, todos se voltam aos fatos (ou seriam versões?!) atrás da necessidade de falar do que todos estão falando, determinando qual assunto é prioridade para você, e esse timing é curto, bem curto.

Rapidamente a mídia esquece, o consumidor da mídia se cansa e quer nova tragédia... e caímos no esquecimento. Fica a lembrança de que a cidade acabou, de que férias aqui não são mais uma opção, de que comprar daqui pode trazer falhas de entrega, que investir aqui é um péssimo negócio, fica também, já ia esquecendo, o esquecimento e o abandono.

Mas antes que a lona desça e se dobre na carroceria do caminhão, o político vem ao picadeiro, de nariz vermelho, que tão bem lhe cabe; chega de helicóptero, de jipe, de lombo de burro, quanto mais cinematográfica a chegada melhor, vestido de botas e colete salva-vidas, se puder, dizem a todo um eleitorado que tudo será feito, e como ninguém é preso por mentir, ser descarado ou cínico, o tempo passa, nada é feito e os políticos se queimam, no máximo, com o público local, mas faturam alto em imagem com o público geral, afinal estes se confortam com o discurso, não estão aqui, e não precisam da ação, deste modo é uma grande oportunidade: prometer por prometer!

Para os políticos safados, as grandes emergências são sinal de dinheiro, muito dinheiro. Compras sem licitações, enlameadas por esquemas fraudulentos de quadrilhas que operam sob corpos soterrados ou afogados, sem nenhum resquício moral, rende muito caixa dois para campanhas eleitorais e uma legião de correligionários que, sustentado por dinheiros que ninguém quer saber de onde vieram, seguem votando em troca de sacos de cimento e outros benefícios próprios.

Enquanto isso resta a nós criar factoides e barulho, para que a mídia, tão ansiosa por notícia, se ocupe de novo conosco e nos dê uma oportunidade de dizer as verdades sobre as mentiras, de mostrar o que individualmente foi reconstruído e o que publicamente não foi feito, que possamos demonstrar as opções de férias e investimentos que ainda existem e as novas que surgiram, e que possamos reassistir à cada promessa feita por seu autor e que este seja confrontado com sua irresponsabilidade, demência ou má-fé.

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