Marcha política

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Um dos itens que mais interessa ao marketing é o comportamento de uma sociedade. A propaganda, o consumo, a linguagem, tudo passa pela ressonância e significados que uma sociedade dá aos símbolos usados por cada uma destas ferramentas. Uma mulher bonita muda de aspecto dependendo da cultura, da época, dependendo da idade de com quem você quer falar, muda até de classe social o conceito de beleza. Assim as verdades de uma sociedade são aspectos exclusivos e mutáveis, então, entender o que está acontecendo é vital. Assim eu pergunto: o que está acontecendo?

Alguém faz ideia do que é isso que está incitando as massas nas capitais e agora começa a envolver as cidades menores? Quem quer o quê, como e quando?

Isso não é pela passagem do ônibus (não em Nova Friburgo pelo menos), isso é pelos estádios da copa? Isso é pelo pífio crescimento que esse país vem vivendo nos último trocentos anos? O PT adormeceu os movimentos sociais, e agora estará o monstro reacordando?

Será que isso é porque o Neymar foi pra Espanha?

O curioso que nestas marchas você vê o playboy de vestido de Hollister do lado do cara de camiseta no rosto, tem patricinha de unha de silicone pintada de oncinha e funkeira com tatoo da gaiola das popozudas. Todo mundo junto, misturado e sem saber exatamente o que faz ali.

Tem gente que foi por que o Facebook dele estava lotado de chamados, outro porque era a oportunidade de "ganhar” uma TV de LCD, outro porque estava louco para quebrar a loja onde ele trabalhou, e tem muita gente que é massa de manobra e não faz a menor ideia do porquê estar ali.

Posso concordar que motivos não faltam, durante muito tempo o poder público esteve livre de qualquer pressão social e manteve opiniões contidas com benefícios de bolsa isso e bolsa aquilo, mas a coisa está fora de controle a pergunta é: a te quando? Por quê? Como se resolve?

Na última semana no programa Roda Viva, os líderes do Movimento Passe Livre foram perguntados se tinham um canoa no início e que agora estavam com uma arca de Noé e disseram que não, mas vamos combinar, é isso que está acontecendo.

Tamanha heterogeneidade, tamanha repercussão e tamanho descontrole é uma arca de Noé!

Tem elefante, girafa, morcego, tartaruga, tem de tudo, e principalmente tem muita gente querendo saber onde, quando, como e quem isso vai envolver, como isso vai se desdobrar, acabar, projetar, apagar...

Uma nova linguagem pode estar nascendo, uma nova sociedade pode estar se desenhando, uma nova nada pode estar acontecendo. O marketing não faz a sociedade, o marketing apenas conversa, potencializa, aproxima a sociedade de seus próprios valores. 

Se tudo isso vai ser tudo, se nada disso vai ser nada, somente o tempo vai nos dizer, mas que nossa sociedade precisa discutir mais tudo, e que misturar todo mundo está sendo bem interessante socialmente falando, mas que a coisa está sem nome, cara e controle, isso é fato.

Descobrir os discursos e alinhá-los, fugir dos aproveitadores focados em autopromoção, evitar a baderna e a violência sob qualquer pretexto, e construir um diálogo com o poder instituído tudo isso pode ser muito valioso e gerar novas linguagem para toda uma sociedade e consequentemente para o marketing. A violência só existe onde não há comunicação, e esta pode não existir porque não há quem ouça, mas também, porque não há quem fale. E de modo geral, só se vê braço que arremessa e perna que chuta e corre até agora. 


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.

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