Mala publicidad es buena publicidad (Falem mal, mas falem de mim)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Claro que quem inventou essa frase tinha um problema sério de distúrbio de personalidade e não entendia patavina de marketing.

Ser lembrado de forma negativa não é nem de longe uma boa estratégia de lembrança, exceto se seus planos incluírem reclusão e afastamento.

Lembranças negativas geram o que chamamos de demanda negativa, ou seja, um comportamento no qual o consumidor pode chegar ao ponto de pagar mais (pelo concorrente) só para não ter que consumir determinado produto, serviço ou marca, tamanha a má experiência do coitado com esta.

Vemos isso com frequência em estabelecimentos comerciais rotulados com faixas escritas "sob nova direção”, buscando desesperadamente clientes que lhe deem uma segunda chance.

Propaganda ruim é a prova de que propaganda funciona. Deixe uma notícia ruim vazar e verá o efeito devastador da comunicação. A Unilever, com seu Ades que foi encontrado no mercado com resíduos de soda cáustica em março do ano passado (2013), até hoje não conseguiu sequer retornar aos níveis de vendas do passado.

Falar mal é muito ruim. O silêncio é muito melhor que a má notícia.

Nesta lógica, uma Copa do Mundo traz muita visibilidade, muita exposição e muita necessidade de se falar sobre o tema, e consequentemente expõe muitos telhados de vidro. E é o que não falta por aqui.

Numa articulação nunca vista antes neste país, ao menos desde o período democrático, o Brasil está internamente tendo suas mazelas suprimidas, a mega conta dos estádios está fora da mídia, os improvisos existentes sonegados, reportagens sobre dificuldades de acesso e filas descomunais minimizadas, parece que o Brasil é um paraíso, só coisa boa, não houve assaltos, sequestros, roubos a banco, nada! Natal quase sucumbiu as chuvas e não se fala disso. Mas se engana quem pensa que o mundo compra notícia brasileira. A imprensa estrangeira está colocando a bola para rolar e não é de hoje, o Brasil do dia a dia é noticia lá fora — e notícia ruim.

Jornais de reconhecimento mundial, como o americano "The New York Times”, o espanhol "El Pais” e o inglês "The Economist”, ou mesmo redes de TV, como a londrina BBC, apontam problemas que passam por escadas de acesso às arquibancadas bambas e pregos expostos em áreas de circulação de torcedores a protestos nas ruas. Falam de desvio de verbas e abuso de poder do narcotráfico, a lista é imensa e ruim.

Falam sobre a concentração de capital, e quem achava que ia lucrar com a Copa descobriu que o dinheiro permanece concentrado na mão de quem já tinha muito dinheiro e que vender cachorro-quente e coco gelado na praia não vai mudar a vida de ninguém.

Nosso país está tendo sua realidade trabalhada de forma cuidadosa internamente, mas a imprensa mundial está se divertindo com os problemas que acontecem por aqui. A corrupção, que aqui parece não acontecer, tem sido notícia recorrente lá fora. Problemas sociais e de infraestrutura também. Tudo isso causa imenso desgaste para a imagem do país e transcende de longe o desgaste político do governo.

Em meio às vaias da abertura da Copa, há quem acredite que o governo se viu desconvidado a sua própria festa, mas a verdadeira festa aconteceu nas obras dos estádios e de infraestrutura ao redor destes, e quem não foi convidado foi o contribuinte! Parece que nada mais importa para quem já usufruiu de todo potencial desta Copa. Parece que a riqueza gerada foi tanta que o desdobramento político ou de imagem, quer seja do partido ou do país, agora ou no futuro, pouco ou nada mais importa.

E o que preocupa é que, para o brasileiro médio, o que realmente importa é que o Brasil seja campeão, de preferência contra a Argentina. Parece que enquanto nossos governantes pensam grande, nosso povo pensa pequeno, achando que é grande tarefa ganhar de um país que cabe em uma das cinco regiões do nosso país, portanto, tem uma probabilidade muito menor de ter bons jogadores. Um país que sofre como nós na economia, é achincalhado pelo poder público como nós e tem no futebol toda a sua esperança.

Parece que o negócio aqui é falar mal do Messi, enquanto isso Dilma sai do foco. Vai, Neymar, faça gol, porque o povo quer é falar bem de você. Faça, porque o poder já sabe que falar mal dele não é bom pros negócios. 


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação 


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