Isso é que é bonito

quarta-feira, 23 de abril de 2014

No pós-feriadão, nada mais adequado do que avaliar a experiência turística. Ficam as fotos, as contas a pagar, as lembranças e a exata percepção de que ainda há muito a melhorar. 

A vivência e a reprise insistente, de quem recebe o turista, em esquecer que aquele momento é o único e/ou o primeiro daquele viajante contrasta com as expectativas e custos da viagem. A automatização de quem o recebe é, no mínimo, frustrante para quem viaja.

A demência de ofertar sempre mais do mesmo, sendo incapaz de tratar as pessoas como pessoas é o grande mal de muita gente que, erroneamente, trabalha com turismo. Serviço frio, padronizado e distante ainda entremeia os álbuns de fotos de quem faz a mala e sai por aí.

Vendedores replicam esse erro ao esquecer que sua vigésima venda do dia pode ser a primeira da vida daquele consumidor. Se no balcão de vendas isso deixa sequelas, no álbum de fotos é ainda pior.

Se engana quem acha que todos fazem errado. Tivemos experiências maravilhosas como restaurantes ótimos, pessoas doces e comprometidas e lugares divinos. Mas quem acredita estar perfeito tende a tropeçar em sua premissa, pela simples e perigosa ausência de informação.

Pudemos vivenciar diversos receptivos, agência de turismo, guias, pousada (nem me fale) e atrações, e o que se vê ainda é um enorme padrão, um tratamento de dia a dia e esquecimento quase completo da oportunidade de avaliar, com suas próprias palavras, a experiência do turista sobre a oferta de negócio comprada.

Avaliar com perguntas ainda é a melhor opção em determinados casos, e muitas vezes o turista tem tempo e pré-disposição em informar. Viver com a sombra de suas próprias deduções é turvo e quase sempre termina com uma fotografia desfocada acerca de si e do que seu cliente espera desta vivência.

O município de Bonito é um destino turístico desejado no Brasil e no mundo, mas ainda exige muitas melhorias ao turista. Suas diversas opções de programa ainda exigem do comprador muitas perguntas prévias para que a experiência transcorra em sua plenitude. As regras estão definidas por quem entrega o serviço e não por quem vende. Esse gap de comunicação, entre intermediário e atração, gera erros e frustrações. Experimentamos, em diversos momentos, a decepção em outros turistas pela desinformação. Vi em donos de negócios comportamentos que inspiram desagrado em clientes e conformismo em funcionários. Em contraponto, conhecemos pessoas inspiradoras, como foi o caso do dono (não por acaso) do melhor e maior restaurante da cidade, com equipe encantadora, envolvente e qualificada. Conhecemos guias apaixonados e motoristas felizes. Em meio a natureza exuberante, ficaram escondidos erros e acertos, alegrias e frustrações.

Ausência de bancos eletrônicos, recusa em cartões de crédito, desencaixe entre voos e traslados e internet precária são exemplos que materializam pecados capitais. Em contraponto, a preservação do meio ambiente através de cotas rígidas que limitam os acessos e controlam as vendas são iniciativas a serem seguidas. Vimos belezas únicas e vimos nossa região em outras. Vimos turistas brasileiros e de diversos continentes. 

O Brasil tem fantástico potencial. Nova Friburgo e região podem, sim, ser cada vez mais um belo destino de turismo, mas há um longo caminho a ser seguido. Há muitos aprendizados a serem realizados e muitos erros a serem evitados ou corrigidos.

De um jeito ou de outro, Bonito ganhou um prêmio europeu como melhor destino de ecoturismo do Brasil e ainda há muito o que melhorar, asseguro. 

O fato é que se o turista, ao arrumar sua mala, precisa trazer paciência e certo senso de sobrevivência, cabe ao empresário melhorar sua visão sobre seu negócio e entender que o turista traz diversas outras experiências e parâmetros na sua expectativa ou exigência. O tripé determina ainda que cabe ao colaborador — e urgentemente — grande comprometimento com este momento de quem compra e experimenta. Há muito mais planejamento e desejo, do turista, do que cabe em uma mala grande de viagem.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.