Histeria... - 2 de fevereiro 2012

sexta-feira, 06 de abril de 2012

É muito curioso como as pessoas se alteram diante de uma boa oportunidade de consumo. Mais curioso ainda é ver como as pessoas conseguem ser levadas a perceber tal oportunidade sem que ela seja de fato algo tão único e oportuno assim. O que o consumo dispara em nós?!

Comprar é uma sensação recompensadora, se vencida a culpa, o medo... Sim, comprar envolve sentimentos contraditórios, de dúvida que pode se ampliar e transformar-se em medo. Medo de decidir-se pelo produto errado, pela cor errada, pelo tamanho errado, pela configuração errada. São muitas possibilidades de algo sair do controle, do sonhado, do planejado, e então, vem essa dúvida, esse medo, essa angústia. Cabe ao ambiente de vendas, ao vendedor, tranquilizar, acalmar, trazer paz ao cliente, comprador, usuário que esta decisão é a melhor, a mais adequada e mais produtiva. Cabe ao vendedor também, ajudar a decidir, tem cliente que cai no modo “referência circular” e não consegue decidir, desempatar, soltar a bola e fica num círculo vicioso que simplesmente não consegue escolher e seu potencial de vendas se restringe ou mesmo se extingue porque não consegue finalizar uma escolha. Diferente do que muitos acreditam, o processo de escolha e de medo pode ocorrer com uma simples lata de leite condensado, com um vestido básico e, é claro, principalmente com um carro, imóvel, viagem.

E o que falar da culpa?! Ah, a culpa... poderosa métrica do consumo que diz que para cada item que se compra, outros deixarão de ser comprados, pois as tentações, escolhas e desejos são infinitos e os recursos financeiros limitados, finitos ou mesmo inexistentes. Então, comprar traz consigo a dura realidade de que algo que se deseja ou mesmo se necessita, não poderá ser comprado, pois algo já foi consumido com tais reservas (existentes ou não) financeiras. Então como fazer a venda diante de um consumidor pecador, cheio de culpa?! Nada de milho, terços ou longas penitências. Dei-lhe cartazes coloridos, vitrines envolventes, pagamentos facilitados, propagandas agressivas, marcas desejadas e vendedores articulados... não há santo que resista!

Neste cenário o rito do consumo acontecerá. A percepção de vantagem é nítida, aliviando a culpa. Com tal trama o consumidor diz a si mesmo que é vítima, que não pode lutar contra tais tentações, terminando de vez com a culpa. Em seu lugar instala-se a recompensa que o consumo pode dar a cada um de nós, a recompensa de participar desta sociedade tão determinada pelo consumo, de figurar entre os que têm, de exercer poder durante o processo de compra com vendedores, crediaristas e caixas, e de permanecer no alto, exibindo seus itens desejados e não possuídos pelos outros, ou de possuir o mesmo que tantos outros que eram invejados possuíam.

São recompensas que deixam um legado durante algum tempo e que recompensa a nós mesmos, no melhor estilo: eu mereço! Quem nunca se disse isso, que atire a primeira embalagem vazia de uma marca de primeira linha!

Cenários de consumo bem-montados, transforma-nos em mentores do consumo, deixa-nos acelerados, compulsivos, é como se ligassem no cérebro o modo “compras”, aonde o foco é possuir tudo que pareça vantajoso, desejado, querido... e tome cartão de crédito e prestação para sustentar tal incorporação e histeria.

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