Haja espírito de Natal

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O Natal é marcado pela bondade, pelo bem querer, pelo amor ao próximo, mas tem algumas situações em que alguns estão tão próximos, mas tão próximos que incomoda. E nada mais próximo que compras de Natal e seu tradicional empurra-empurra.

De um lado vendedores exaustos, vendedores temporais, estoquistas sem prática, caixas em treinamento, de outro lado muita, muita gente convencida de que merece mais atenção que você ou que tem um dia mais ocupado que o seu. 

Se no dia a dia temos que nos proteger de alguns vendedores sem vocação e sem qualquer preparo, no Natal é bom ficar de olho no todo. Lojas subdimensionadas, equipes no limite e acochambradas e clientes que se acham acima do bem e do mal. 

Compras de Natal são um processo que em determinados momentos beiram a penitência. É preciso resignação e muita paciência para se deparar com lojas que simplesmente não conseguem se manter organizadas e com um atendimento que funcione.

O perfil do vendedor de fim de ano por vezes é daquele que estava à margem do comércio porque não conseguia ter qualificação para ser absorvido e quando vem o período de absorção máxima é trazido por força da gravidade e não da qualidade.

Neste circo de horrores decorados com bolinhas e ho-ho-ho, onde o atendimento é ruim e a loja visivelmente subdimensionada, fica até difícil saber qual dos aspectos é mais impactante para o consumidor. No Rio neste fim de semana em uma rede de chocolate muito famosa, um vendedor ocupado com sua colega de trabalho e seus respectivos celulares com 3G, foi incomodado por um cliente que precisava de informações acerca de um produto em uma embalagem diferente. Após ser interpelado sobre o conteúdo da mesma, o ocupado vendedor limitou-se a respondeu "chocolate”. Resposta rasa demais, é óbvio, para uma loja que vende chocolate, mas suficiente para acabar com o humor do consumidor, que, não satisfeito com a má criação do vendedor, seguiu questionando se haviam bombons, tabletes e outras possibilidades em seu interior, e o vendedor sem perder a pose de imbecil retrucou, sugerindo que a informação poderia ser lida na embalagem. Foi a gota, não de chocolate, mas de água! Assisti à cena de uma embalagem sendo destruída, e seus produtos voando pela loja, para a detalhada conferência do consumidor, então já ex-consumidor convicto... De fato havia ampla variedade em seu interior, a julgar pela chuva de itens que se seguiu ao rompimento abrupto da embalagem. Seria hilário se não fosse um absurdo o comportamento desleixado do vendedor.

Em Nova Friburgo, semana passada, em uma loja de nosso principal shopping testemunhei o abandono de uma consumidora que soube ter pulso e trocar de vendedor dentro da loja e ainda assisti ao péssimo atendente irritar-se ao ser substituído em pleno campo de batalha por um com atenção e qualidade.

O fato é que bons e péssimos vendedores estão por toda parte. Nas cidades menores e nas capitais. Durante o ano todo e no Natal. Mas fato também que a ampliação dos ruins é enorme nesta época e soma-se a essa situação a sensação vigente no ponto de venda de que há quem queira mesmo assim, o que transforma o consumidor em alguém mais substituível, e ainda há enorme pressão sobre compras, afinal, tudo tem que estar em mãos antes do dia 25.

Para que tudo não termine em muita frustração para o consumidor que esperou seu décimo terceiro por um ano, é preciso que este se programe mentalmente para o fato de que está prestes a entrar em um território onde não é esperado, e por vezes sequer é desejado. Haja espírito de Natal, haja saco, de papai Noel!


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação


TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.