Eu odeio telemarketing

sábado, 31 de julho de 2010

É impressionante a constância como algumas empresas resolvem tratar ou estabelecer relacionamento com seus clientes ou potenciais clientes da forma errada. Por princípio, cabe às empresas cuidar para que uma demanda inexistente, aquela a qual o cliente não despertou ainda para ela, não se torne numa demanda negativa, aquela aonde o cliente tem algo contrário a empresa.

O mais incrível nestas ‘maravilhosas’ técnicas de mercado, é como algumas empresas comumente transformam ações de promoção de vendas em ações de ‘repelência’ de vendas, como a Credicard fez comigo nesta última semana.

A natureza da operação, transcendeu rapidamente de um cenário aonde iniciei como um potencial consumidor desinteressado e alcancei o status de inimigo motivado da empresa. Para isso a Credicard se esforçou, lançou mão de nada menos que doze ligações em apenas três dias.

Com estratégias dissimuladas de utilizar o telefone residencial, a insistência excessiva, o tratamento apenas pelo primeiro nome, como quem pede para falar com um amigo, apresentar-se também pelo primeiro nome, como estratégia de burlar as barreiras naturais ao incomodo, são cada vez mais comuns e criam desconforto, sensação de ser trapaceado, coagido e invadido, e agora lançam de nova modalidade: desrespeito verbal. Quanta eficiência!

Após diversas tentativas de deixar claro o desinteresse no produto, e de ter recebido o recado que consistia na frase de impacto: “as ligações não cessarão enquanto não conseguirmos falar com ele”, dentro da política de seguir à revelia da opinião dos prepostos por mim colocados, finalmente atendi já esclarecendo o absurdo e o desagrado na metodologia, e na minha firme decisão em não usufruir deste infernal produto (dá pra imaginar bem o que terá o consumidor que passar ao tentar cancelar o cartão!?). Dito isso a grosseira criatura, disfarçada de pseudovendedora, ainda recomendou que se eu estivesse de fato desagradado que ligasse para a Credicard, pasmem, pois ela não se importava com minhas impressões ou sensações e não levaria essa informação à frente, feito isso ainda desligou o telefone.

Nelson Rodrigues, em sua inteligência e bem humorada visão da vida em sociedade, dizia que deveríamos ter modéstia se não por convicção, que fosse por falsidade, parafraseando-o penso que as empresas de telemarketing deveriam ter preocupação com seus potencias consumidores, se não for por convicção, que seja por inteligência.

As empresas necessariamente precisam ser mais inteligentes e responsáveis no que obrigam seus funcionários a fazer e seus potenciais clientes passar e entender que as estratégias que não estão dando certo, não devem ser pioradas, mas sim mudadas, afinal isso é um claro aviso de que não estamos gostando nada da metodologia.

No resumo da ópera, a Credicard ficou totalmente sem crédito comigo e o telemarketing precisa de bons ajustes para permitir que sua eficiência possa ser de fato um bom cartão de visita.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.