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Estatística do consumo - 16 de junho 2011
Sempre aconteceu, mas parece que desta vez estamos sofrendo uma epidemia de propagandas estatísticas — aquelas que trazem percentuais ou proporções de fatos que parece que você sofre, se não, vão acabar te convencendo disso.
Parece que 3 em cada 4 quatro propagandas demonstram que 3 em cada 2 consumidores adora ser apavorado por números que ninguém sabe de onde vem (o 3 em cada 2 é deboche e não erro!).
Propagandas apregoam que 2 em cada 3 pessoas parecem não ingerir taxas adequadas de vitaminas essenciais. Outro diz que 9 em cada 10 não consomem determinado mineral na quantidade adequada, outro apregoa que “trocentos” por cento da população sofre com prisão de ventre (e parece uma epidemia, porque são muitos produtos pro mesmo problema!), somado a isso seu cardiologista te diz que você caminha 80% menos do que deveria, come 75% mais sal que poderia e seguem os comerciais disseminando o mal que seu corpo tem com soluções simplistas e garantidas.
Com uso de computação gráfica, casais de sucesso, satisfação garantida ou seu dinheiro de volta, e outros métodos, ainda há muito o que recorrer para fazer você correr ao ponto de venda e consumir saúde em pote. O estimulo a uma vida mais saudável, uma alimentação mais completa e rica em determinados itens, fazem parte das letrinhas ilegíveis e quase sempre imperceptíveis, o que se vende é o modelo de vida aonde o encapsulado e industrializado é o milagre para combater uma vida industrial e encapsulada — no mínimo curioso!
As pastas de dente, cremes dentais e outros produtos do tipo também vendem soluções que contradizem tudo que ensinamos aos nossos filhos. Doze horas de proteção destroem o conceito de escovar os dentes ao acordar, após as refeições, e antes de dormir. Será que o dia do cara tem sessenta horas (5x12), ou será que o cara já assumiu que a sociedade em que vivemos é bulímica e imagina que ninguém mais come para manter o “corpicho”? Ou será que todos se alimentam de iogurtes de ameixa e complexos vitamínicos duas vezes ao dia apenas?!
Não ter prisão de ventre hoje é item de distinção. Deveria constar no currículo do candidato ao emprego. Vou por no rodapé da coluna agora que não tenho prisão de ventre!
E sua casa?! Quando for vender sua casa e esta não sofrer com mosquitos, anuncie tal diferencial. A julgar pela quantidade de comerciais que cuidam dos mosquitos, não tê-los por perto é grande diferencial.
A comunicação está usando a matemática, tão pouco dominada por todos, para nos transformar em um bando de hipocondríacos, com vertentes de bulimia, de beleza farmacêutica e senso de consumo turbinado. Unindo-se a isso, vêm as variáveis de uma histeria de fim dos tempos e um senso de que a prateleira te dará todas as soluções.
O fato é que se continuar usando 100% do seu tempo para ganhar dinheiro e 100% do seu dinheiro para comprar as coisas para tornar sua vida mais saudável, você estará 100% dentro da estatística que diz que 1 em cada 1 consumidor de saúde de prateleira não terá suas necessidades e desejos atendidas, muito menos suas vidas melhoradas.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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