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Esse ano já acabou!
quarta-feira, 09 de julho de 2014
Diz a lenda que o rico trabalha pouco e pobre trabalha muito. Nesta lógica, somos ricos, muito ricos. O consumo precisa mesmo de ricos, de dinheiro para consumir produtos e serviços. Somos ricos! Duzentos e dois milhões de ricos.
Na verdade, a cada 18 segundos aumenta em mais um o número de brasileiros, segundo o IBGE; então, mais um rico está disponível no mercado a cada 18 segundos.
Afirmo que somos ricos, dado o modo requintado e despreocupado como lidamos com o dia a dia dos compromissos. Enquanto o mundo gira, o Brasil para.
Durante a Copa, a população brasileira aumentou em quase uma Nova Friburgo, mais precisamente em 144 mil brasileiros a mais para comer, vestir, ser medicado, mover-se, sujar, receber seguro-desemprego... porque, convenhamos, a economia não cresce neste ritmo. Nada acontece de bom neste ritmo.
Vejamos 2014. O ano que começou em março, dado o "atraso” do carnaval, seguido por um abril recoberto de feriados e um maio pré-Copa. O que dizer de junho e julho? Seguem no ritmo da seleção brasileira, uma verdadeira pelada. E o que esperar do segundo semestre? Eleições, final de mandatos, festas de final de ano! O que esperar?
A economia rateia, derrapa, estaciona, recua! 17% a menos de crescimento no índice da Anfavea, um dos melhores termômetros da economia de um país (o desenvolvimento da indústria automobilística).
O empresariado está imprensado com os altos custos do emprego e comercialização, e pouca produtividade e nenhuma política de desenvolvimento.
Como o mercado consumidor consegue suportar tamanha inércia? O marketing tem limites, do impulso ao consumo! Marketing não é mágica, é estratégia. Liberação de crédito e surtos de redução de IPI (tudo o que país tem feito) funcionam por algum tempo, são táticos e não estratégicos, pois não são estruturantes.
Qualquer empresa que já baixou preço para fazer caixa descobriu em pouco tempo que essa redução não estrutura consumo, apenas adia o verdadeiro problema de não possuir mecanismos consistentes de venda. Conceitualmente vale o mesmo para o país, estado, município.
Profissionais liberais, empregadores e todos que dependem de tempo de consumo estão imprensados num ritmo de país rico, recoberto de feriados, eleições, eventos culturais e esportivos. Seguimos apoiados sobre um gramado cujas as placas estão soltas, frágil e feio de campo de várzea.
O ano não só não começou ainda, como já acabou! 2014 já era para muitos segmentos. Segmentos que empregam, que investem, que ditam ritmo de crescimento, entusiasmam e orientam grandes investimentos.
A cultura corrupta do país para a economia no pré-campanha. Paralelo a isso, os grandes blocos de capital do país não investirão neste final de mandato e nem no início do próximo, até sentirem a que veio o novo governo.
Assim, 2014 já acabou e 2015 já começa trôpego. Mas seguimos ricos, podemos esperar, esperar o Brasil ser o país do futuro. O governo federal teme que os efeitos da surra vergonhosa que tomamos contra a Alemanha traga perdas eleitorais e tenta se descolar da pífia campanha da seleção. Até o momento, o esforço do governo federal permanece com o foco em seu próprio umbigo e cuida para que ele saia ileso, ainda que isso custe bem mais que os 26 bilhões de reais já gastos no mundial.
Mas não se preocupem, somos todos ricos — e quem precisa deste dinheiro todo? Que diferença faz um ano a mais ou um ano a menos? Que venha 2016. Ah... tem Olimpíadas! Glup!
Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de
Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,
professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação
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