Esquizofrenia social e profissional

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Por definição esquizofrênico é aquele que tem dificuldade ou até impedimento de distinguir fantasia de realidade, é aquele que tem a incapacidade de ligar sonhos com realidade, vive no isolamento dos sonhos ou no limbo desta mistura.

Todos nós temos e precisamos construir nossos próprios sonhos. Podemos classificá-los em dois grandes grupos, sonhos a serem sonhados e sonhos a serem vividos. Na categoria um podemos incluir ganhar na loteria, ser jogador de futebol famoso, sair com a Britney Spears (quando minha esposa ler isso, terei sérios problemas!), casar em uma ilha do pacífico; na categoria dois podemos listar casar e ter uma família, ter sucesso profissional, viajar pelo mundo, ser feliz, etc.

Ter a capacidade de realizar os sonhos do nível dois e divertir-se com a fantasia do nível um ao mesmo tempo em que vivemos a vida real, faz de nós pessoas categorizadas como normais. A normalidade vem da correta compreensão entre causa e consequência e da capacidade de se construir estratégias, táticas e ações capazes de materializar pontes fortes o bastante para ligar realidade e sonho realizável, e a capacidade de distinguir e canalizar as energias corretas para a categoria de sonhos realizáveis.

Nesta lógica vemos o mercado de trabalho e de consumo com diversos casos tangíveis dos esquizofrênicos profissionais e sociais gerando uma legião de incapazes, grupos de pessoas que são impedidas por elas mesmas e por sua educação/criação que de construir seus sonhos. Mesmo providas de martelos e pregos, não conseguem construir as pontes necessárias para ligar seus sonhos exequíveis a sua realidade (por vezes já a meio caminho), pelo contrário, exercem grande esforço, sem compreender, na construção de cercas que as isolam cada vez mais da prosperidade social e profissional.

Egos mimados, com visão turva de si mesmo, egocêntricas, providas de um hemisfério esquerdo potente—aquele que vê o indivíduo, não ele no contexto social—e de um hemisfério direito atrofiado—sem visão de todo, de conjunto e de encaixe social; do mesmo modo empresas, marcas e negócios, perdem-se no tempo social e atropelam desejos, prioridades e necessidades de consumidores quer sejam estes novos ou antigos.

Tais comportamentos no indivíduo parecem originar-se em famílias culpadas pela falta de tempo com seus filhos, pela imensa dificuldade de dizer não ao filho diante da guarda compartilhada, de escolas onde a autoridade e a regra foram substituídas pela aprovação automática e pela liberdade não vigiada; já dentro do mercado, lojas e marcas parecem não conseguir acompanhar as mudanças comportamentais dos consumidores, parecem que donos e gestores permanecem focados em seus umbigos e não possuem forças ou coragem para erguer seus olhos ao mercado, e certamente pela imensa dificuldade de unir custos competidores com colaboradores comprometidos acabam mantendo um hiato na lucidez.

Parece que vivemos num tempo de vitória do hemisfério esquerdo, cada vez mais. Pessoas e empresas controladas por uma visão exclusiva de si mesmo, é a imposição do “eu” sobre o “nós”, é o triunfo da esquizofrenia, da “maluquez”, como diria Raul Seixas: “E esse caminho que eu mesmo escolhi, É tão fácil seguir por não ter onde ir...”

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