É bonito ser descartável!

sábado, 31 de julho de 2010

Às vezes tenho a sensação de que a onda de reciclagem chegou tarde demais, considerando o estilo do descartável que vivemos. É que nada mais é feito para ser reciclado, ou melhor, a cultura da reciclagem presumiria a do antidesperdício, não!?

Ainda é muito confusa a forma como a modernidade que impõe a necessidade do descartável, do substituível e do fora de moda, tenta flertar com o ecologicamente correto, reciclado e sustentável.

Todo produto que compramos precisa estar lindo, e para isso requer embalagens com tintas fortes, materiais nobres que gerem alto brilho, resistência e permita a percepção de qualidade suprema. Pronto, lá se foi a tinta ecológica, o papel ecológico e a redução de matéria-prima.

O preço é cada vez mais importante na política de lucros, onde qualquer exceção custa caro e, em nome da economia, geramos imensos desperdícios, pois descartamos o todo, porque ninguém se interessa em cuidar da parte, duvida!?

Tente trocar uma peça importante de sua TV e perceberá que deverá jogá-la fora, afinal é mais barato. Tente consertar seu celular e ele terminará, na sua gaveta, substituído por outro mais novo ou descartado no lixo inadequadamente.

O preço da parte custa quase sempre o preço do todo ou tão próximo que preferimos o todo novo mais caro que a parte antiga, démodé, mais barata.

E quando sequer vendem a parte!? Veja, caro leitor, o estranho caso do Bluetooth, também conhecido como fone de ouvido sem fio, para celulares. Este item é vendido por cem, cento e vinte reais, dependendo do ponto e ganância do vendedor, tal item tem uma peça de plástico, de menos de dez centavos, certamente, que mantém o fone suspenso junto a orelha, e pasmem, quebra facilmente, e simplesmente, não vende avulso, por preço algum, conforme o 0800 do fabricante me informou: “não compensa vendê-lo”. Como manter-se contra o desperdício se o mundo trama contra você?!

Na onda de condenar o todo pela parte, de descartar como inútil apesar de ainda poder ser bem útil, vamos tagarelando sobre reciclagem, ecologia e seguimos comprando produtos de embalagens vistosas, esquecendo de saber como é a manutenção de eletrônicos e eletrodomésticos, substituindo o que ainda funciona, mas que já não segue mais a moda da moda.

Estamos longe de reciclar produtos e matérias-primas na adequada proporção que nos é possível, mas tal afastamento é pequeno se colocado frente a distância que ficamos a cada dia de uma cultura que não descarte por descartar, que não valorize o estado da arte em detrimento do estado de uso (se me permitem o trocadilho) e que principalmente não ache o bonito mais bonito do que é feio o desperdício.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.