Domingo o circo acaba!

quarta-feira, 01 de outubro de 2014

Consigo ouvir os acordes das cornetas com aquela música de circo e o apresentador dizendo:

— Senhoras e senhores, com vocês o circo da política! Tem palhaço? 

— Tem, sim senhor!

— Tem malabarista? 

— Tem, sim senhor!!!

— Tem mágico?

— Tem, sim senhor!!! 

— E ainda dinheiro na cueca, na mala, conta na Suíça, ganhador de loteria compulsivo e muitas outras atrações!

A parte que ainda me deixa confuso é se o palhaço sou eu — que tenho que escolher entre o "menos ruim”, "menos corrupto”, "menos sonso” — ou se é o candidato que promete tudo, na maior cara lavada e não está nem aí para fazer o que promete?!

Interessante também é o comportamento destes com a comunicação. Passam quatro ou oito anos sem fazer contato e de repente quer ser meu amigo mais próximo, inseparável. Quer me cumprimentar, me abraçar... Imagino o circo, que vive viajando, e que quando volta à cidade, quer que seus cidadãos se comovam com a lona sendo armada. 

O uso da propaganda pelo político é realmente muito distorcido. Pouco ou nenhum esforço de aproximação é feito durante mandatos e uma paixão avassaladora acontece antes do espetáculo circense que sou obrigado a participar a cada dois anos. É como se o carro de som passasse chamando todos para o espetáculo e uma vez dentro da lona, ninguém mais falasse com você ou anunciasse as atrações.

Os circos proibiram leões presos, elefantes maltratados e macacos domesticados, mas ainda não libertaram os eleitores de tudo isso. Somos leões tratados como gatinhos presos em um sistema que privilegia os donos do circo, somos elefantes amedrontados com ratos que roem toda a riqueza de nosso país, somos macacos que se contentam com banana e andam de patinete, que a cada eleição é distribuído de forma licita ou ilícita.

Os donos do circo entregam ignorância e sustento, e a plateia aplaude esse espetáculo que não vale o ingresso. Ingresso esse que é pago compulsoriamente a percentuais absurdamente altos de cada alimento que se come, de cada combustível que se usa, de cada produto que se compra, de cada fundo de garantia que não garante, de cada aposentadoria que não aposenta e de cada imposto de renda que não rende... E mesmo assim se aplaude, e a música do circo não para.

Fico com a exata sensação de que o palhaço sou eu, mas não estou no picadeiro, estou sentado em cadeira numerada, com zona e seção, assistindo a tudo, e não posso ir embora, nem vaiar, até que o espetáculo termine. Tenho que ver o dono do circo zombando da plateia, tenho que sofrer calado vendo meus amigos elefantes, leões e macacos. Tenho que comer pipoca e ficar quieto.

Não sei se minha criança interior se foi, não sei se foi o circo que perdeu a graça, só sei que não consigo rir, não consigo me emocionar. Tudo que vejo é um picadeiro, quase todo, cheio de artistas de circo, sem dotes do ofício, mas muito oportunistas, e uma plateia repleta de palhaços, leões, elefantes e macacos. Ainda posso ouvir a música tocando e o apresentador dizendo: o show tem que continuar! E perguntando: tem palhaço? E fico em dúvida se respondo: tem, sim senhor ou se falo presente, não sei se é chamada, como em sala de aula, ou se é ele apenas debochando de mim.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo

Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia

Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.


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