Deficiente é o mercado

sábado, 31 de julho de 2010

Nossas calçadas, lojas, transporte, atrações culturais, restaurantes, tudo ainda apresenta grandes limitações para portadores de necessidades especiais. Outra coisa em comum é o status de tratar de forma igual a todos ou de diferente ou mesmo entre si.

O dilema de criar agrupamentos, ao mesmo tempo que tenta massificar, deixa o mercado confuso e contraditório.

Acessibilidade, na forma de rampas, de instruções em braile, de corrimãos etc., são só alguns exemplos do que o mercado necessita para incluir 10% de toda a população no consumo, na sociedade, na vida e recursos que existem. 18 milhões de portadores de necessidades especiais é o número de pessoas que têm restrições amplificadas em uma sociedade de massa.

Se somarmos a eles os idosos, que apresentam muitas vezes limitações de visão, audição, locomoção ou outra, veremos que a porção do mercado não atendida é muito significativa.

Ainda estamos engatinhando em entender que há uma legião de consumidores não atendidos. Pense em anões e seus guarda-roupas duplex; ou em mesas a 70 cm do chão. Pense em imóveis que limitam idosos em seus trânsito ou um cadeirante em sua liberdade. Quantos elevadores e sinalizações de um usual sanitário ainda impedem um deficiente visual de ter independência, veremos que há muito o que produzir e vender.

Pense nos canhotos com suas tesouras. Pelo simples fato de se desviarem da média, permanecem queimados em fogueiras do capitalismo, com enorme dificuldade de comprar uma caneca ou sua tesoura, ou mesmo de sentarem-se em uma carteira adequada à sua escrita em uma sala de aula; por que? Porque o mundo é destro.

As minorias, mesmo quando as minorias não são lá tão minorias assim, são compulsoriamente transformados em consumidores de produtos inadequados ou simplesmente ficam sem atendimento, temos tremores de consumo, prateleiras que não se veem, produtos que não se mexem, vendas que sequer sussurram.

Temos que começar, e com a mão esquerda, a preferir marcas que tenham visão ampliada de mercado, que respeitem a multiplicidade de gostos, desejos, necessidades e preferências, marcas capazes de trazerem bem-estar e conforto, aliado a modernidade, moda e a qualquer outro valor, a todos os grupos, pois a tendência de atendimento a um mercado de massa está não somente transformando as minorias em nada, como também as maiorias em ninguém. A deficiência está no mercado produtor, e as necessidades especiais, ou, principalmente, a necessidade de nos fazer sentir especiais, em todos nós.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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