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D. Baratinha é bem cara, muito cara!
quinta-feira, 18 de julho de 2013
O baile da Ilha fiscal foi o último grande evento do império brasileiro, e como o poder sempre faz, marcado por muita extravagância e excesso. Algo semelhante parece ter acontecido 120 anos depois, mais precisamente no Copacabana Palace, templo do poder e da alta sociedade carioca não apenas de outrora, mas ainda de hoje.
O Baile da Baratinha, o casamento de Beatriz Barata, neta do poderoso Rei do ônibus do Rio, com o herdeiro do setor de transportes no Ceará, teve cenas que pareciam que terminaria como a noite de Tulherias na velha Paris, com cabeças em pontas de lança e o poder derrubado pela plebe. Mas diferente do antigo palácio que fora moradia dos Luíses e Napoleão, aqui nós temos o Bope, que agiu, a pimenta ardeu, a bala de borracha voou, junto com um cinzeiro e muitos casadinhos que foram atirados pelos convidados nas luxuosas varandas no nosso palácio. E no final os nobres voltaram para casa em suas Mercedes, os noivos seguiram em lua de mel e os manifestantes se dispersaram. Mas ficou a lição: ostentar está ficando insuportável.
Contraditório demasiado para uma sociedade capitalista que vive da promessa infindável de acúmulo do capital, mas parece que esta ficando proibido usá-lo do jeito que quiser.
É claro também, e principalmente, que tamanha riqueza sendo usada por alguém que enriqueceu vendendo serviço de transporte público — que em plenas manifestações pelo país inteiro só se conseguiu míseros vinte centavos —, gastando 3 milhões de reais em uma noite, para mil convidados, é algo assustador, ofensivo e provocativo.
O que mais impressiona no caso é como a internet muda tudo. A cobertura informal dos milhares de manifestantes na porta da igreja e do Copacabana Palace em seus Faces e Twitters postando frases, acontecimentos, imagens e tudo fora do controle das grandes mídias, gerando desdobramentos sem rédeas e envolvimentos em progressão geométrica e mais, trazendo fatos que incendiavam cada vez mais, como acesso a listas de convidados, como um ministro do supremo tribunal ou a lista de presentes pedidos pela noiva, como os que vazaram na internet, da H. Stern, caríssimos.
Agressões, "cinzeiradas”, coro pro noivo de "vai brochar” e outros aspectos da dinâmica social cheia de conflitos de classes são secundários, embora mais envolventes, mas afia o fio da guilhotina, a mudança nos valores de uma sociedade, na pressão social que se estabelece a partir dos ocorridos neste episódio e a importância que deverá ser dada a discrição da alta sociedade. Casamentos no Caribe e pontos fora dos grandes centros serão uma tendência, ou festas mais baratas que três milhões de reais, mas ao que parece, nada será como antes.
O poder da internet, que foi a sala de cinema da grande audiência da noite, deu ritmo e amplitude, o que era impossível no passado. Estamos vivendo uma forma de histeria que sempre foi concentrada na mídia formal e que se dilui, mas não se enfraqueceu, pelo contrário, obriga a grande mídia a tratar assuntos de relevância no FB e outras mídias sociais como prioridade sob a pena de perder audiência, credibilidade e capacidade financeira.
Parece que o casamento da Dona Baratinha saiu bem mais caro que os três milhões e vai ser muito mais falado do que ela mesma imaginava. Se já tinha muito homem com aversão ao casamento, agora isso só vai piorar, e muito pai de noiva respirando aliviado com festas mais modestas e filhas com os pés no chão.
Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação
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