Consumo responsável

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Olá, mulher gastadeira, olá, mulher gastadora, tu me ensina a fazer compra, que eu te ensino a namorar... Se o xaxado “mulher rendeira” fosse lançado hoje, quase um século depois de sua criação, bem que está poderia ser a sua letra.
O perfil do brasileiro de hoje é endividado, mulher, 30 anos e de forma geral opta por não pagar a conta no fim do mês, pedir dinheiro emprestado a algum pato da família, entra no cheque especial ou usa o rotativo do cartão de crédito (quase sempre mortal!).
O alto nível de endividamento provoca um calote generalizado, que se abate sobre o comércio, tirando dinheiro de circulação, fazendo a indústria frear e fazendo a festa de bancos do país que ainda mantém as mais altas taxas de juros do mundo.
A insistência nas compras, o parcelamento indiscriminado, uma legislação muito protetora ao não pagador e a ascendência do poder de compra estão fazendo proliferar uma legião de consumidores compulsivos, que compram acima de sua possibilidade, e sendo esses em sua maioria mulheres, ficam duas perguntas no ar:
Será que elas, que ainda mantêm o papel predominante de educar os filhos, perderam o juízo de vez? Ou será que seus maridos, companheiros ou pais de seus filhos estão com o crédito suspenso e agora é a vez delas de estourarem o orçamento?
Seja qual for a resposta, assusta pela próxima geração, criada a excessos de consumo e carências de responsabilidade, uma geração que tenderá a forte valorização dos bens de consumo e bem menos aos bens morais, penso como educador, que deveríamos incluir urgentemente disciplinas de consumo consciente com nome convidativos como: tudo que se compra tem que ser pago; calote não é legal, não existe o “sem juros”, o carro novo de hoje fica velho e as prestações não acabam e outras que desmistifiquem o consumo fofo.
O governo teme reter o crédito que hoje leva a todos a compras fúteis (dá pra comprar chocolate e batata frita em 12x), baixos valores de parcela, alta composição de juros (disfarçado de sem juros) e de longo prazo de endividamento; a fórmula resulta quase sempre em comprometimento da renda acima do tolerável, diminuição do valor investido em compras, porque parcelas significativas vão compor o preço do financiamento, resultando em lucro para os agentes financeiros, mas drástica redução do volume de venda líquida. 
A inadimplência pode recair sobre serviços e produtos que sequer foram financiados, isso porque o nível de endividamento é tão alto e consequentemente o orçamento é tão intolerante a qualquer anormalidade de consumo que imprevistos tão comuns ao orçamento familiar, como a compra de um pneu, uma despesa com medicamento, uma redução por menor que seja na receita, acaba por apresentá-lo sem nenhuma cerimônia a esta família, que sem capacidade de honrar com suas prestações, rói a corda e simplesmente não paga e perde seu crédito.
Consumo responsável vai muito além de produtos que respeitem o meio ambiente, precisa primeiramente respeitar a carteira do consumidor, consumir de maneira exagerada ou mesmo cravada demais na capacidade máxima de endividamento, faz mal ao ambiente familiar e a toda uma nova geração de consumidores.

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