Caixinha de Natal

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Chegou à época mais frenética de compras do ano: o Natal. Em meio a vitrines recheadas de papais noéis que mexem, dançam e atraem crianças e marmanjos, os balcões escondem itens nada decorativos e absurdamente ali dispostos: as caixinhas de natal.

Num comércio tão profissionalizado e diante de consumidores já tão sobrecarregados de pagamentos e da carestia do dia a dia ainda figuram lojas, algumas em área central, onde o lojista acredita que é da responsabilidade do seu cliente remunerar sua força de vendas, além dos valores já embutidos no preço de venda.

Bom atendimento não pode mais ser remunerado como algo excepcional, não por parte de quem compra; esta função é exclusiva de quem contrata e deve ser enxergada como custo da operação, e não como um extra, um bônus que é oferecido ao cliente e, por constrangimento, pago por quem consome.

Aliás, bom atendimento faz tempo virou básico e um imenso favor que o vendedor faz a si, no sentido de obter maior rendimento na forma de comissão individual ou a obtenção de meta comum ou mesmo em ambos os casos, como é padrão em algumas lojas.

O vendedor precisa entender que sua função é servir bem, com conhecimento, cortesia e sintonizado aos interesses de quem compra e sincronizado no tempo de atendimento de cada cliente. Servir é a palavra. Servir bem é uma vocação, um orgulho e uma necessidade natural que precisa ser encontrada por cada um, em especial por quem trabalha no comércio e atende a ricos, pobres, novos, velhos, decididos, duvidosos etc.

É urgente que o ponto de venda e quem tecnicamente o constitui entendam e atendam o consumidor do tempo de hoje; mais rápido, mais individualista, mais distante, mais informado, mais desconfiado, mais intolerante a aceitar e receber responsabilidades que não são naturais dele. Assim a caixinha, forrada de papel vermelho e escrito com letras de analfabeto, deve ser tratada como uma iniciativa interna e privada, de responsabilidade do processo de rateio da comissão, sem vistas ao consumidor e sem a cumplicidade dele e sem que ele seja achacado por essa razão.

As oportunidades de vendas são imensas, há carência de vendedores comprometidos, capazes de satisfazer um cliente e fazê-lo retornar a este mesmo ponto de venda, sem que seja para trocas, e a responsabilidade disso é e continuará sendo do empresário, que precisa selecionar, treinar, acompanhar, fiscalizar, dar retorno dos comportamentos e eventualmente demitir.

Mas engana-se o vendedor que acredita que nasce pronto e domina o processo de atendimento e satisfação. Entender o consumidor, o portfólio de produtos ou serviços da empresa, seus concorrentes e absorver e propagar a cultura desta empresa é obrigação sine qua non de qualquer vendedor que aspira ser remunerado por essa função. E vale sempre lembrar que esta, a remuneração, deve ser originada de sua relação comercial com a empresa e, portanto, de forma indireta pelo consumidor.

Deixe o balcão livre para itens pertinentes à venda por impulso, atenda bem e obtenha o melhor e máximo resultado de venda que concilie os interesses da empresa e do consumidor, acompanhe o comprador até o fechamento total da venda, leve-o até a porta, faça com que ele queira voltar, mas, faça-o voltar para você. Esse é o melhor caixinha que podemos fazer e dura o ano todo, muito mais eficaz que um que dura menos de um mês e resulta quase sempre de coação e não da bondade do espírito de Natal.


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação

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