Batendo uma bolinha

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Enquanto todos os países-sede tiveram crescimento do PIB no ano da Copa (exceto Itália em 1990), o Brasil segue na contramão, com redução do PIB. Nossa cambaleante economia segue chutando para fora, apesar de realizar investimentos desnecessários em estádios e indispensáveis em infraestrutura.

Assim, apesar da injeção de dinheiro público e privado em aeroportos, estádios, hotéis, etc., a Copa em nosso Brasil não mostrou ainda a que veio. O banco mundial revisou nossa meta de PIB e já expulsou um ponto percentual no placar que já era quase um empate de zero a zero.

O comércio temático, que trabalha em cima de datas promocionais, mudando todo seu portfólio de acordo com o tema da época — volta às aulas, Copa do Mundo, Páscoa, Dia das Crianças, etc. — não faturou o esperado e, em véspera de Copa, tenta uma liquidação aqui e outra ali para não ficar estocado de verde e amarelo. E torce para ter prorrogação, pra ver se vende pelo menos o necessário para não ter prejuízo.

Bares e restaurantes tendem a faturar com os jogos e tentam reprogramar o Dia dos Namorados para a véspera em nome de um atendimento melhor e ampliação do faturamento. As vitrines ficaram mais verdes e amarelas do que vermelhas e, ao que parece, teremos mais chopp do que vinho, mais corneta do que batom, mais camisa do Brasil que lingerie neste dia 12 de junho.

O setor da mídia com direitos de transmissão fatura alto com Copa do Mundo, com espaços comerciais lotados, enquanto os demais canais perdem em audiência e preferência. 

O intervalo está até chato, com todos falando da mesma coisa, gritos de gol ecoam, mas as vendas não goleiam. O mercado está em treino, o gramado da paisagem é verde, mas o cenário não. O jogo não começa pra nossa economia e já estamos a 15 dias do segundo semestre.

Bolas fora, a Copa também traz histeria. Aliás, a mídia nos deixa histéricos. Não se consegue mais falar de outro assunto, de repente nos vemos todos obrigados a saber do noivado do jogador A, da capoeira do jogador B, da alimentação da seleção C, enquanto isso a bolsa-ministro, uma ajudinha para o alto escalão do governo federal assistir aos jogos da Copa, segue em relativo silêncio, e a massa não lembra sequer de quem é o vice-presidente do Brasil e ignora que este acaba de revender o apoio do seu partido PMDB ao PT nas próximas eleições.

A mídia, que parece ser sempre monotarefa, evidentemente assume seu papel de entreter, e elege a Copa do Mundo como único assunto relevante, e goste você ou não de futebol, e aconteça ou não outros fatos mais significativos, a pauta Copa tem seu lugar definido. Nesta estratégia a massa segue conduzida, e até os mais céticos se veem vestidos de verde e amarelo e de bandeira na mão.

A bola no campo vai começar a rolar hoje, mas a bola murcha da nossa economia segue sem embalo e sem fazer gol. Tomara que a Copa acabe logo, pois este carnaval fora de época é toda a distração que o poder precisa. O pão e circo da Roma antiga viraram futebol e cerveja do Brasil moderno. Não mudou muito em dois mil anos. Em ano de eleição, cada gol de Neymar e Fred pode se tornar um belo gol contra a atenção que o Brasil precisa. 


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação 


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