Apelos - 16 de dezembro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Natal social... Natal ecológico... Natal responsável...ao que parece, ainda não chegou a hora de nada disso. O relógio ainda badala no timing do Natal promocional.

Modalidades de negócios antenadas em perspectivas mais, digamos, bondosas ainda engatinham. Não que elas não tenham futuro, não que elas não tenham público cativo, mas diante da legião de consumidores de primeira viagem formados pela classe B, C e D ascendentes, cada uma com o seu respectivo total de zeros no seu financiamento, os apelos afastados do promocional ainda ecoam baixinho, baixinho.

Por hora, quase todos se contentam, e se lambuzam, com o bom e velho prazo, desconto, vantagem, brinde. A sacola ecológica ainda é supérfluo para a maioria, a doação de parte dos lucros para projetos sociais ou ambientais ainda é luxo e modalidades como “comércio justo” são detalhes que podem esperar.

A qualidade do consumo vai subir na exata velocidade que o consumidor usar estes quesitos como diferenciação, motivação ou razão para o consumo, mas por hora, que morra a etiqueta de produção ou a de compromisso, satisfazemos a imensa maioria de consumidores com a de preço.

Apesar das imensas garras creditadas ao marketing, que aos olhos dos leigos parece vestir capa rubro-negra, na melhor mistura de Super-Homem com Drácula – com poderes intermináveis e vocação para sugar – nada se pode fazer enquanto o consumidor não fisgar as iscas já lançadas há muito tempo pelas ações de marketing e pela mídia em geral.

Todos parecem simpatizar com o ursinho polar, com a criança pobre, com o projeto de capoeira, mas se o urso, a criança ou o berimbau quer um pedaço do que é “meu”, lascou-se! Nessa hora rola capoeira pra cima do urso, mordida para cima da criança e prato vazio no quengo do capoeirista. Farinha pouca, meu pirão primeiro!

Seguimos assim no consumo, cada qual com sua farinheira. É questão de tempo, é questão de educação, é questão de consequência, todos vamos aprender que o grátis não existe, que o juros está embutido, que o financiamento de perder de vista, daquela pequena parcela, cobra na medida que extingue o poder de compra por anos.

O governo tem papel significativo no processo de transformação do mercado e de consumidores. Políticas fiscais voltadas para ações focadas em meio ambiente, melhoria de vida das pessoas, na disseminação da cultura podem acelerar e direcionar as iniciativas dos empresários. Este mesmo governo pode, também, através de ações restritivas, impedir o uso ou ação que prejudique o meio ambiente ou que promova distanciamento social das empresas.

Enquanto racionamos a farinha, racionalizamos os problemas dos outros e vivemos emocionados em nossos desejos, que venham os descontos.

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