A rede vai te caçar, onde quer que esteja

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Talvez o nome "rede” para designar internet, quando criado, não tinha a ideia de ser algo que acabasse por nos capturar. Em seu sentido de muitos pontos, a rede acabou por transformar-se em uma armadilha, bem mais moderna que as redes de outrora, mas tão capaz de nos aprisionar como qualquer rede já criada.

Mais forte do que nunca e com nós que passam por nossos interesses, a internet hoje leva algumas de nossas chamadas, nossas mensagens, nossos vídeos, fotos, interesses e, por que não, nossa privacidade.

Enquanto na imigração americana seu celular precisa estar ligado, para que se tenha certeza de que o dispositivo não é uma bomba, nas reuniões de negócios ele precisa estar desligado e sem bateria. A velocidade com que uma informação circula com a internet em um celular, por exemplo, é demasiadamente rápida e suas consequências podem ser demasiadamente graves.

As ações de remarketing estão por toda parte. Basta uma inofensiva visita a um site de e-commerce e seu passeio na internet será recheado de alusões ao anúncio recém-visitado. Caixinhas ofertando o produto pesquisado irão persegui-lo por dias. Seguindo seus passos, a internet volta a te ofertar todas as informações buscadas e não compradas, num nível de inteligência e insistência muito além da privacidade usual.

Seu celular cria mapas de onde você esteve nos últimos 30 dias, quer você queira ou não. Aplicativos pedem o ID do seu telefone, permissão para acessar sua localização, seu microfone e câmera em nome de simples atualizações. Sua privacidade já foi invadida e você acredita, como os policiais no Sumaré, que nada nem ninguém sabe de seus passos à sombra.

Na Copa do Mundo, no último mês, as TVs se dedicaram a mostrar as beldades nos estádios, bem melhor que as peladas em campo (se me permitem o trocadilho), e uma delas, uma menina de 17 anos, belga, de capacete viking e muito charme ganhou, o que parecia mais que seus quinze segundos de fama. Sua aparição gerou muitos comentários na internet, e uma grande fabricante mundial de cosméticos viu na mocinha um grande potencial de negócio. Pesquisou, procurou, fuçou e encontrou. Dias após a aparição, surgiu um contrato milionário com a L’oreal e todo o glamour e poder que abraça uma negociação dessas. Apenas 17 anos, linda e, agora, famosa e rica. Eis que dois dias depois vaza uma foto, destas inocentes, postada em uma rede social. A bela musa em um safári com um animal abatido. Bastou para que a fabricante rescindisse o contrato e a bela caísse por causa da fera.

Empresas de grande porte, antes de contratar, vasculham a rede social em busca de informações, comportamentos e imagens que possam comprometer a conduta do candidato ou mesmo funcionário. Um professor primário que poste fotos bêbado, um motorista particular que publique uma participação em uma pega, um profissional que trabalha com dados sigilosos drogado... são apenas exemplos de como não há espaço para deslizes.

As redes sociais e a internet trazem um novo e desconhecido grau de exposição. A portabilidade de câmeras, filmadoras e gravadores de voz expõe a todos a novos níveis de vulnerabilidade, constrangimento ou exposição. Todo cuidado é pouco.

Não é difícil acreditar que, no futuro, candidatos políticos ou mesmo no mundo executivo, hoje jovens, possam ser destituídos por conta de frases, fotos, filmes e outras coisas que aos 20 anos podem fazer sentido ou serem aceitáveis, mas que aos 40 são muito mais complicadas de aceitar ou explicar.

Como esse futuro parece ser novo, e logo ali, o mais prudente hoje é ter cautela e evitar fotos com copos de cerveja, biquíni, más companhias e, é claro, caçadas. Afinal, a internet já mostrou que, na melhor das hipóteses, um dia é do caçador, mas o outro é sempre da caça!


Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de

Administração Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental,

professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação 


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