O que vamos dizer a eles?

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O que aconteceu na sexta-feira, em Paris, deixou o mundo aterrorizado.

O que os pais disseram às crianças?

O que os professores vão lhes explicar na segunda-feira?

O que os meios de comunicação lhes mostraram?

Como os pequenos vão assimilar tal ato de terrorismo?

Isso me remete às brincadeiras de polícia e ladrão, a cada época reinventadas. Nas lojas de brinquedos, as armas são vedetes. A criança nasce inserida numa cultura agressiva, em que um pode matar o outro, uma vez que na brincadeira isso acontece com imensa naturalidade. Só que aquele que morre logo depois se levante e continua a brincar até matar o outro. A brincadeira de matar é lúdica e bem-aceita em todos os lugares.

Isso também me remete às histórias infantis em que o mal se veste de perversidade e delineia muito bem seus personagens que causam medo, como o Lobo Mau, a Rainha Má de Branca de Neve, o Conde Drácula. O Lorde Voldemort e tantos outros. São fantasmagóricos. Contraditoriamente, encantam e seduzem e acabam se fazendo presentes na vida quotidiana. Quantas máscaras enaltecem tais figuras?

 Certa vez, na rua, me aproximei de uma mulher que assustava uma menina, dizendo que o Bicho-Papão ia pegá-la. Aproximei-me e disse-lhe:

— Faz isso não!

O Bicho-Papão é irreal e nunca vai estar no quarto de uma criança, debaixo da cama ou dentro da gaveta. Mas os Bichos-Papões reais têm nome e identidade, são encontrados nas esquinas ou dentro de casa. E estes ameaçam e realizam maldades com atos, palavras e atitudes.

As crianças convivem com a perversidade desde cedo na realidade concreta, como na sexta-feira; os terroristas são pessoas reais. O mundo está cruel. As diferenças sociais, ideológicas, políticas, religiosas e raciais fazem as piores torturas. Matam; a vida pouco vale diante delas.

O que nós escritores infantojuvenis temos imensa responsabilidade sobre o vamos escrever. Precisamos abordar da vida com esperança, valorizando o bem viver, a amizade, a dignidade e a confraternização. Principalmente porque a realidade, muitas vezes, grita com bombas.

Como a criança deve perceber aqueles que detonam a si próprios em nome de um pensamento ideológico?

Eu, particularmente, fico impactada quando me deparo com aquele terrorista Mohammed Emwazi que foi uma criança de olhos brilhantes e sorridente.

A certeza que tenho é que não posso me calar. Escrevo esta coluna porque sei que é preciso conversar com a criança sobre os terríveis fatos que acontecem em vários lugares do mundo. Pois não é somente do outro lado do Atlântico que as tragédias acontecem. Nem em outros continente. Aqui também, ao nosso lado.

E, por mais incrível que possa parecer, o modo de ser perverso fascina. Talvez porque os arquétipos construídos na estrutura emocional sejam fracos. O amor, a presença, o diálogo são os antídotos. Fortalecem o caráter do bem ser.

E a literatura também. Preserva a vida com seus personagens que humanizam as histórias, mostram caminhos que enriquecem a percepção dos modos de viver saudáveis, mostram o caráter de personagens preocupados com pessoas, animais, meio-ambiente e que buscam a felicidade diante da desarmonia. Que decidem ser cidadãos na vida coletiva.

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