A literatura infantojuvenil na era do transumanismo

domingo, 16 de agosto de 2015

Ah, mas aquele antigo hábito de abrir um livro de literatura e cheirá-lo é inspirador. É um modo do leitor se preparar para captar o perfume do texto, que enfeitiça e provoca a vontade de conhecer o que nele habita, encontrar ideias enriquecedoras ou até mesmo ter acesso a situações similares com as que sente dificuldade em lidar na própria vida. Como o escrito por Letícia Sardenberg, Eu, Meu cachorro e Meus Pais Separados. 

O livro tem o poder de penetrar no âmago do leitor. É preciso tocá-lo, vê-lo, ler suas páginas com a reverência que as palavras merecem e pesquisar. É bom conversar a respeito, escutar e pensar. Fantasiar. Querer viver situações novas. 

O livro sempre traz algo de inédito! Mesmo os mais antigos, como a Odisseia, o primeiro livro de literatura é atual. Inclusive, hoje, é fonte importante para o estudo dos arquétipos.

Sua presença é relevante na vida do jovem e da criança, em processo de apreensão do mundo, ao ampliar os horizontes da percepção que decodifica o ambiente e as circunstâncias existenciais. Isto porque a literatura fala da vida e todos nós, da criança ao velho, precisamos de encantamento para criar sonhos e construir nossos dias. Esclarecer o que vivemos. 

Se ao fecharmos um livro, depois de ler suas páginas ou até de relê-las, o abraçamos, é porque nos sentimos tocados. Modificados. O modo de olhar a vida e interagir fica diferente pelo o que a história nos oferece e nos tornamos um pouco mais humanizados. Depois de ler a Bolsa Amarela de Lygia Bojunga, a imaginação fértil de Raquel, a protagonista, reorganiza nossa bagagem de vontades. 
E não são elas que nos fazem ir além? 

O mundo do faz de conta dos contos de fadas favorece a criança compreender melhor as coisas da vida. O sonho de Cinderela cria esperança; o Gato de Botas abre portas com possibilidades. E Chapeuzinho Vermelho oferece cuidados diante do desconhecido.
A criança e o jovem estão no começo da aventura do viver. Hoje, certamente, em suas mãos carregam um celular ou um tablet, competentes instrumentos de comunicação e entretenimento. Nem sempre os utilizam para ter acesso ao livro virtual. E se o fizerem vão poder abraçá-lo da mesma forma como fazem com o de papel. 

  E eles gostam de ler! Recentemente, mais uma vez pude constatar isso no 17º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, quando conversei com leitores de várias idades. Às vezes, tímidos, eles disseram como o livro participa das suas vidas. Outros, animados, demonstraram que, além de ler, querem escrever histórias. Todos se sentem encantados pelas histórias porque, de alguma forma, podem identificar-se com os personagens.

Isso quer dizer que, desde o ano de 1400, quando o primeiro livro foi impresso, tem sido buscado por inúmeras gerações que fazem questão de encontrar a magia que transforma. Em cada página. Em cada palavra. 
O livro acompanhou a evolução das civilizações.

E, hoje, na era do transumanismo, em que o homem busca a tecnologia para ampliar suas capacidades, a literatura infantojuvenil se torna relevante para que a criança e o jovem não se transformem em adultos robotizados, cercados por robôs humanizados. As histórias têm o poder de pousar como borboletas na alma do leitor e despertar, como uma varinha de condão, os sentimentos e valores que fazem a pessoa ser plenamente humana. 

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