Entre pássaros e elefantes

domingo, 06 de setembro de 2015

Vivemos no planeta Terra. Planeta azul, lugar de vida, natureza e seres. Vivos e brutos. Nós, humanos, fazemos parte de todos os ecossistemas. Nada mais do que isso. Se nós temos inteligência aperfeiçoada, certamente é para usá-la para conquistarmos a felicidade. O bem-viver. A felicidade não é solitária, é compartilhada com tudo e todos que estão a nossa volta. Viver neste belíssimo planeta requer um modo responsável de estar e fazer. De ser.

Aqui, compartilhamos a existência com os animais das mais diferentes espécies e que, de várias formas, fazem parte do nosso quotidiano. Seja através da presença física, dos livros, filmes e documentários. Seja apenas através das conversas das quais participamos. Ou simplesmente escutamos.

Como a literatura tem a função de oferecer palavras que nos ajudam a reorganizar a vida, não deixaria de falar dos animais. Especialmente a infantil. Que usa palavras ternas, tristes, bem-humoradas ou aventureiras. Quem se esquece da história, baseada em fatos reais, “Marley e eu”? E da raposa de Saint Exupéry? Personagem do livro “O Pequeno Príncipe” tão sensivelmente escrita, que nos oferece pensamentos a serem considerados em nossa vida diária, como: “Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Será para mim único no mundo. E serei para ti única no mundo.” E da obra de Sara Gruen, “Água para Elefantes”? Ou Sid, a preguiça tagarela de “A era do gelo”? (A dramaturgia faz parte da literatura e abrange textos para o teatro, o cinema e outros).

 Além do mais, através dos animais, a literatura tem meios de tocar a criança com maior contundência. Também o jovem, o adulto e o velho. Ao falar dos bichos, mostra a importância dos animais, que, muitos deles, fazem parte da nossa cultura cotidiana, como gatos, cachorros e pássaros.

E José Alberto Mujica Cordano, ex-presidente do Uruguai, muito me ajuda nesta argumentação quando defende a bandeira de igualdade. Ah, meus amigos, somos todos iguais! Habitamos no mesmo planeta. Não somos superiores a ninguém, muito menos aos animais. Será que entendemos a vida tão melhor do que eles?

A criança que tem animais domésticos e lê histórias a respeito, percebe o quanto eles enriquecem a vida com afeto, alegria e companhia. São anjos. Inclusive nos ensinam, apesar de não terem comunicação verbal. Sabem muito sobre nós. Os humanos.

Os animais possuem inteligência desenvolvida e são capazes de perceber se estamos alegres, tristes ou doentes. É uma inteligência diferente da nossa, talvez mais concreta e emocional. Nós criamos tecnologia e armas. E eles?

Talvez nem seja exclusivamente preciso ter contato com histórias através de livros. Os causos (a literatura começou pela oralidade quando as histórias e os fatos eram passados de boca a boca) contados nas esquinas e mesas de jantar mostram o valor da presença dos animais. E, com certeza, quase todas as histórias escritas nos livros são inspiradas por situações vividas ou ouvidas.

As histórias de animais humanizam. E o que é humanizar, afinal de contas? Significa, a meu ver, tornar-se cada vez uma pessoa melhor. Evoluir. Ir, a cada dia, um pouco mais além do que se é. Humanizar é aperfeiçoar as capacidades que possuímos para interagir com o ambiente em que vivemos e ampliar nossos modos de comunicação com o outro e o grande Outro, o mundo. Enfim, nos tornamos mais humanos quando aprendemos o amor.

Vivemos na Terra, um planeta não dos homens, mas dos seres. É esta consciência que devemos ter como adultos. E como tal temos a responsabilidade de mostrar às crianças que elas fazem parte de um todo. Não são exclusivas. Nem únicas. São seres de convivência.

A literatura tem a função de oferecer este apoio. Não é discurso, não é ensaio de conduta. É a mais pura arte em que a palavras são bem usadas, apenas para mostrar a beleza do viver. Até nos mais densos textos, sempre o valor do existir se faz presente, mesmo nas entrelinhas.

Ah, Cecil, não conheci você! Mas sua história me fez lhe amar. Desejo que tenha um bom retorno a Terra. Quem sabe não seja um guardião de florestas para proteger pássaros e elefantes?  

 

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