Coração pulsante

quinta-feira, 07 de abril de 2016
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As histórias recriam a vida através de narrativas de fatos, reais ou imaginados. Com arte e através da palavra, unidade da linguagem humana que tem a função de revelar o pensamento, nos oferecem a possibilidade de vivenciar situações novas e reviver as que já experimentamos ao colocar a vida diante de nós.

Eu, particularmente, entendo que a narração é consequência da aventura do viver; temos sede e fome, queremos sentir o calor do sol à beira de riachos e ter asas para voar. Como não encontramos no quotidiano a satisfação de todos os desejos e necessidades, nos arriscamos a atravessar pontes sobre rios e fendas profundas para realizá-las.

Narramos porque somos feitos de vazios!

Mas como a natureza tem sabedoria, fomos dotados das capacidades de pensar e imaginar. Criamos histórias. Somos capazes de inventar um universo ficcional que nos permite buscar respostas e soluções para as tantas questões e dores que navegam em nossas artérias e veias.

O escritor tem varas de condão; consegue dar sentido especial, certamente particular aos enredos. Mesmo para o pequeno leitor, esse mundo imaginado é capaz de mostrar de modo lúdico e divertido que é preciso lavar as mãos antes de saborear sorvetes de pitanga.

As narrativas literárias têm a ação como seu principal elemento. Podem se presentar em prosa ou verso, ter a forma de anedotas ou minicontos, ou como no anúncio publicado na internet: “Vende-se um berço nunca usado”.  

As narrativas são feitas de palavras porque nosso pensamento é assim estruturado. Que sejam palavras soltas e articuladas, até inventadas, como fazia Guimarães Rosa. Nasceram com o surgimento do homem na Terra e acompanharam a sua existência em todos os tempos e lugares. Até hoje escrevemos páginas do nosso livro. “Navegar é preciso, viver não é preciso”, escreveu Fernando Pessoa. Não há suspense maior, aventura, nem vontade mais forte do que a plenitude do viver.

As histórias tocam a inteireza do existir. Se seus criadores querem melhorar modos de viver ou se apenas desejam brincar com riscos ou até mostrar caminhos com poucas pedras, como Carlos Drummond de Andrade sinalizou: “Tinha uma pedra no meio do caminho”. As histórias guardam a memória do mundo.

As narrativas literárias se diferem das individuais?

Será que é na imaginação que encontramos os maiores desafios?

Grandes histórias são inspiradas nos contos populares e lendas, aqueles que correm de boca a boca, que fundam cidades e civilizações, como a do Mão de Luva, que inaugura o povoamento da região de Nova Friburgo, em suas diferentes versões, desde a mais romântica. Mesmo as de ficção científica encontram na vida seu ponto de partida, mesmo que seja no anseio do homem em dominar o espaço e conhecer o universo.

As histórias inserem de alguma forma o leitor na vida, uma vez que revelam o amor à existência humana. Por que a de Chapeuzinho Vermelho é tão contada? Não será porque nas praças habitam lobos maus? Não será porque as avós se preocupam com seus netos?

Tenho certeza que são ingredientes saborosos para os fazedores de pessoas. Não seria mais eficiente contar histórias do que dar conselhos? As histórias encantam. Seja pela forma como as palavras são empregadas, seja por causarem expectativa no ouvinte ou leitor. Seja por oferecerem personagens instigantes, sensíveis e sedutores.

 As histórias pulsam em nós como um coração.

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