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Abre-te, sésamo, e faça seu óleo nos lubrificar em 2016
Acordei nas vésperas de 2016 com sol mal despontando atrás da montanha. Entre bocejos, dei uma volta no jardim e retornei à cama para acabar com um resto de sono guardado nas pestanas. Ainda abri a janela para continuar a ver o verde das plantas e o azul do céu. De olhos fechados, fiquei escutando o suave ruído do vento tocar as árvores e o piar dos passarinhos, especialmente dos filhotes de um ninho próximo à minha janela, que se misturavam com latidos longínquos e algumas vozes.
Naquela vigília, a palavra sésamo ia e voltava. E, de repente, “Abre-te, Sésamo” me despertou de vez. Fui investigar a ideia e encontrei preciosidades!
Ah, as ideias, de onde elas vêm? Será possível que um velho feiticeiro de boné roxo venha nos cochichar no pé do ouvido?
Sei lá! Só sei que “Abre-te, Sésamo” me acionou, tal qual um controle remoto. Em Ali Babá e os Quarenta Ladrões, a expressão é a senha que faz mover a pedra que fecha a gruta onde está escondido um vasto tesouro, roubado pelos quarenta ladrões. Mas a ideia de coisa roubada não me agradou. E aquele algo com jeito de voz me cutucava. Vai, continua a investigar. Prossegui minhas leituras ao som dos ecos da natureza, até que exclamei Eureka!, imitando Arquimedes, ao descobrir o sentido para Abre-te, Sésamo.
Sésamo é a semente do gergelim, que somente abre quando está madura.
As sementes de sésamo são muito pequenas, têm o sabor parecido com o da noz, podem ser brancas, amarelas, pretas e vermelhas. Seu grande tesouro é o óleo que é dotado de propriedades, como o ômega 3, proteínas e o cálcio. Além de tudo, são resistentes ao apodrecimento.
Existe uma lenda que conta que, quando os deuses se reuniram para criar o mundo, bebiam vinho feito destas sementes. Já as indianas se referem ao sésamo como símbolo da imortalidade. Cultivadas desde a pré-história no oriente, hoje fazem parte da nossa cultura alimentar.
Então, quem ou o que me trouxe a ideia do sésamo tinha sabedoria milenar. Pus-me a refletir sobre o ano de 2016 e logo me veio a ideia de lubrificar, uma vez que as engrenagens rodam melhor quando untadas com graxa de boa qualidade.
O sésamo é uma planta bonita de um metro de altura aproximadamente. Mas o sésamo que existe em nós, como é e onde está? Passei mais de um dia refletindo a respeito. Observando o trabalhos dos pais-passarinhos do ninho perto da minha janela, notei que eles trabalham do nascer ao pôr do sol incessantemente. A cada movimento que fazem, eles param, olham para os lados, pulam e dão pequenos voos até chegarem ao ninho, quando os pequenos filhotes já estão com a boca aberta, esperando o alimento. Considerei, então, que o nosso sésamo está na vontade em dar prosseguimento à vida, cujo óleo é a dignidade com que tomamos as decisões.
Tudo na natureza acontece pelo esforço dos seres. A vida da borboleta, por exemplo, passa por difíceis e longas metamorfoses, somente para este belo inseto, por apenas um breve tempo na etapa final do seu ciclo de vida, tornar-se borboleta e procriar.
Nós, os humanos, somos frágeis e efêmeros. Há dignidade nesta forma de nos reconhecermos. E, se, desta forma nos considerarmos, poderemos ir além do que a natureza nos propõe. Como Aleijadinho e Stephen Hawking, que tendo consciência do valor da arte e da ciência, respectivamente, souberam retirar o melhor de si.
A filosofia budista diz que a grande tarefa é descobrir nosso trabalho e, então, com todo o coração, vamos nos dedicar a ele. E, agora, a minha tarefa é direcionar esta crônica para os que cuidam das crianças e dos jovens. Eles precisam de nós! Precisam da nossa presença para que possam amadurecer e abrir o próprio sésamo.
Não existem receitas para o plantio do sésamo, apenas recomenda-se solo fértil e bem drenado. Também não existem receitas para pais, avós ou professores, apenas recomenda-se amor.
Mas existe um ingrediente que talvez seja indicado para irrigar o crescimento deles: a literatura. Assim, sendo, o livro “As Mil e uma Noites” pode ser interessante e divertido de ser lido.
ABRE-TE SÉSAMO, PARA TODOS NÓS!
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