Valores e contravalores de uma sociedade

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Nossos avós eram fungíveis. Levantavam pela manhã, plantavam, colhiam, cozinhavam e comiam. A vida estava traçada para o trabalho e para a convivência. Nossos pais eram tangíveis. Queriam um armário e uma mesa de jantar que atravessasse a vida com eles. Tudo era pesado, seguro e de difícil manejo. Nossos pais desejam as coisas bem sólidas e duradouras. Chegando a nossa vez, nos deparamos com pessoas intangíveis. Nós gostamos de modo diferente: sabor, cheiros de perfume, som de um CD. Nós não levamos conosco, a não ser na lembrança. Já iniciamos uma vida quase líquida em contraposição à solidez dos nossos pais e avós. Diante de nossos filhos surgiram outras diferenças: eles são memoráveis e vivem num mundo de sonhos. Não compram roupas ou tênis, compram sonhos. As marcas falam mais que os produtos. Assim, eles afirmam que compraram um Nike ou um Diesel.

Para nossos filhos e nossos alunos as aulas, as conferências, os filmes e a arte devem ser memoráveis. Se as normas e os costumes de nossos avós eram adaptados àquela época, nossos filhos não conseguiram conhecer esse mundo do passado e chegaram ao presente sem que os pais tenham tido tempo de fazer o elo entre os avós e os netos.

Estamos, portanto, numa era de desorientação, onde não se sabe mais o que é certo ou errado, o que deve ou não ser feito. Com isso desaparece o respeito, a consideração pela hierarquia dentro das instituições e até dentro da família. 

A escola está no "olho” desse furacão e cabe a ela, com a lucidez de sua direção e seu corpo de educadores, organizar junto com as famílias um novo código de conduta que norteie as relações entre educadores, educandos e familiares. 

Nós temos que pensar a disciplina, se usarmos um termo do passado, ou normas de convivência, se usarmos uma linguagem moderna para definir em conjunto, democraticamente, a escola que queremos. A escola que não tem origem no convento, nem no quartel, porque essas seguem uma disciplina, provavelmente, milenar. As escolas particulares e públicas precisam de uma organização para educar o civil, aquele que será um cidadão da metrópole, aquele que anda em vez de marchar; aquele que trata os outros com urbanidade e educação mesmo estando longe dos muros conventuais. Nós precisamos pensar que não "bateremos” continência, mas pediremos licença e diremos "por favor”. Não obedeceremos como se faz numa ordem unida, mas teremos união na ordem estabelecida para a convivência escolar. 

Um professor, hoje, pode ter perdido a autoridade porque não lhe é mais permitido ser autoritário. E, se de um lado, educadores na escola e em casa precisam rever seus conceitos em relação à convivência humana, os alunos e filhos precisam debater e analisar os valores que uma escola insere dentro de seus muros para formar cidadãos responsáveis que sabem o quanto vale respeitar, mais que obedecer, o quanto vale ser cortês e demonstrar educação, princípios básicos para se preservar o respeito.


Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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