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Um supervisor para o século 21
O que se requer de um supervisor para este século, com tantas mudanças e, ao mesmo tempo, tão rápidas? Alguém que seja capaz de olhar a escola com outro olhar que não seja tributário do cartesianismo tradicional, que seja alguém voltado para uma visão sistêmica do mundo e da vida escolar e que olhe com desconfiança as excessivas dicotomias existentes, separando as disciplinas, umas das outras.
Caberá ao supervisor perceber que o ensino envolve dois grandes blocos: o das ciências da natureza e das ciências humanas. Ao mesmo tempo é importante verificar que instrumentos são usados pelos professores para não deixar esses blocos separados. A melhor ferramenta parece-nos ser a da ecologia porque permite maior interdisciplinaridade.
Em suma, o supervisor para este século precisa orientar professores para que "tudo esteja ligado a tudo".
Vivemos um momento de grandes transformações e podemos elencar algumas: Conseguiram que um neutrino caminhasse a uma velocidade maior que a luz num túnel de aceleração de partículas; o estado de Indiana, nos Estados Unidos, já permite a alfabetização com o uso de tablets. Se, por um lado, isso reflete um avanço da tecnologia para dentro das escolas, de outro, preocupa os alfabetizadores que não se sentem preparados para alfabetizar usando essa ferramenta.
Quem lida com psicomotricidade, por exemplo, questiona a necessidade do desenvolvimento da grafomotricidade nessa fase da vida, embora ela possa, de certo modo, ser atendida com o uso da digitação nos tablets, no aprendizado da música, na arte de desenhar, pintar e esculpir. Portanto, o supervisor não poderá ater-se, somente, a um aspecto do desenvolvimento das habilidades dos alunos, mas incentivar para que outros instrumentos sejam aplicados na obtenção do mesmo fim.
O momento em que vivemos é preocupante por algumas outras razões: a humanidade passou a consumir mais do que o planeta oferece, o que nos coloca em rota de colisão com o esgotamento da terra e da vida sobre ela; uma criança se mata aos 10 anos de idade, o que aumenta a preocupação de educadores, psicólogos e familiares diante da realidade virtual com que a criança convive.
Como se vê, o momento é desafiador e, para enfrentá-lo, temos a necessidade de uma nova mentalidade de supervisão. Não será mais aquela que supervisiona para verificar se os programas estão sendo cumpridos, mas há uma ação muito mais importante, qual seja a de reorientar os trabalhos, instigar a mudança e colocar os meios para dar suporte à ação dos professores em sala de aula.
O supervisor precisa estar atento ao fato de que a criança tem um direito além da vaga. Ela tem o direito de aprender o que é muito além de uma simples vaga conseguida na escola.
Então, o supervisor é aquele intimamente ligado ao aprendizado. De nada adiantará trabalhar para que haja cumprimento burocrático dos programas escolares, se as crianças não estiverem aprendendo.
Vivemos a era noética, uma era de criatividade, de inteligência e de espírito. Um momento da história em que este “noos” (sopro inspirador) nos coloca numa situação que exige a consideração da espiritualidade, dos modelos sistêmicos e da sinergia.
Se olharmos para o sistema de formação dos supervisores nos cursos de pedagogia, temos a impressão de uma predominância em relação à burocracia e uma ação cumpridora da legislação de ensino, sobretudo nos aspectos quantitativos e legais. A isso pouco se alia o envolvimento com as transformações dentro do pensamento da sociedade do conhecimento e, portanto, noética.
O supervisor para este século será, antes de tudo, um incentivador e um grande animador de todas as atividades pedagógicas que facilitem o aprendizado e a troca de conhecimento entre as pessoas.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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