Sobre os reais partidos políticos brasileiros

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Será que vale a pena continuar pensando nos partidos políticos conforme são configurados nas eleições e na formação de bancadas na Câmara, Senado e demais Assembleias Legislativas? Creio que sim e que não. Para entender melhor a política brasileira e seus contornos, temos de fazer uma ressonância magnética para compreender melhor essa grande teia. 

A bancada da terra é uma das mais fortes, formada por proprietários de terras, produtores rurais, representantes de empresas que atuam junto ao agronegócio. Esta bancada apresenta deputados e senadores em todos os partidos e, quando os interesses ligados à terra estiverem em jogo, desaparecem as siglas constitucionais e a sigla prática dita as cartas.

A bancada da toga sempre foi historicamente forte, seja pela estrutura de nossa república, seja pela necessidade de legisladores que conheçam o direito internacional e constitucional. Os emaranhados legais existentes partem das casas legislativas e lá os "togados” dão as cartas, passando por cima de todas as siglas partidárias. Há um aparato que os protege e que se intitula "Ordem”. Lembra bastante uma Ordem Medieval e, dentro das universidades, se formos olhar as festas de formatura, a "cor vermelha” está intimamente ligada à toga. As mesas que presidem, nas universidades, as formaturas, naquele momento de reunião da Congregação, rememoram um capítulo de uma Ordem Medieval, onde a cor branca dedicada ao Papa faz parte do arminho que envolve os ombros do Reitor e os cardeais são exatamente os advogados, todos com arminho vermelho.

A bancada do jaleco branco e do bisturi, conjugando-se com as associações de classe tem invejável força. Muito maior que a bancada da pá e da picareta, que reuniria os engenheiros. Assim, se houver a contratação de técnicos e engenheiros, poucas serão as reclamações e as manifestações. Se a bancada do "bisturi” não aceita que se desviem profissionais da porta de um hospital para outro, junto à "betoneira” das construções civis, técnicos e engenheiros são convidados com ofertas especiais. Desde 2010 que o Brasil vem importando técnicos e engenheiros para a área do petróleo. A força da bancada do "jaleco branco” tem força porque, se um médico resolve cabalar voto para um colega candidato, cada consulta torna-se um assédio político e os resultados falam nas urnas. Esta força é diversamente proporcional à dor. Quanto mais a dor diminui, mais força ganha o "jaleco”. A solidariedade ética e política, mesmo que não exista tanta ética na política, é muito mais forte que algumas bancadas.

A bancada da bíblia ultrapassa muitas religiões. Em partidos diferentes, pastores, médiuns, sacerdotes e praticantes de muitas religiões têm posições definidas em relação a questões de moral e ética, mesmo contra a vontade das suas lideranças. Não adianta um diretório nacional de um partido orientar a votação a favor de um conceito não aceito sob o ponto de vista religioso, pois os votos bíblicos serão contrários.

A bancada da pá e da picareta, formada por engenheiros e técnicos da área da construção, aliados aos arquitetos, tem um olho no orçamento e nas emendas parlamentares e outro nas licitações de obras espalhadas pelo país. Fala mais forte a obra, a emenda parlamentar que, propriamente, a profissão. Não importa o partido político. Importa o resultado que administradores e contabilistas aplaudirão com o apoio de alguns da bancada da toga, porque estarão presentes como assessores, em todos os possíveis contratos.

Os verdes, muitas vezes chamados de "ecochatos” — e estou certo que esta pecha está errada — estribam-se na realidade de a terra estar levando um ano e meio para repor o que a humanidade tira dela em um ano. Caminhando assim, precisaremos, em breve, se tivermos todos, o desenvolvimento da Dinamarca, de cinco terras para produzir o que consumimos e para depositarmos o lixo que produzimos. Deveria ser uma bancada com mais poder, no entanto, nem são numerosos os seus componentes, nem a força do voto parlamentar é forte, haja vista a última votação sobre o Código Florestal.

As demais representações não fazem verão. São poucos e se restringem às defesas dos direitos das minorias, juntando-se ora aqui, ora ali para manter vivas as reivindicações raciais, de gênero e relativas às distorções históricas.

Ora direis, como o poeta, "ouvir estrelas”! Na verdade, parece-me que elas falam e com grandezas diferentes. Basta consultar a ressonância político-magnética do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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