Sobre a dignidade do magistério - Última parte

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Quando comemoramos o nosso dia, o dia do mestre, em 15 de outubro, embora nossa dignidade não dependa de dia, mês ou ano, não restam dúvidas que nosso ânimo fica abalado diante da realidade. De nada interessa termos uma significativa marca no tempo e termos falta de dignidade no espaço, não sermos considerados na sociedade, sermos menosprezados pelas forças da incompreensão e desligados por completo de uma visão mais profunda sobre a necessidade da educação.

Mas, à parte o 15 de outubro, continuamos mestres e, apesar das complexidades, vamos levantar a cabeça e comemorar nosso dia em união com toda a sociedade, sobretudo com aquela parcela mais interessada em solucionar as questões sociais e políticas, pelo amadurecimento democrático do povo e do crescimento da cidadania alicerçada no aprimoramento da educação de cada um. A sociedade mais voltada para a educação era a sociedade primitiva. Uma tribo vê a necessidade da comunicação do saber de modo mais direto e profundo do que a sociedade industrial.

Embora o mestre por excelência seja o pajé e os caciques tenham o comando, inclusive, da ciência da tribo, a sobrevivência depende do maior e melhor sistema de comunicação de conhecimentos existentes. Assim, todos são mestres, todos sentem a necessidade de aprender e, ao mesmo tempo, de ensinar. Somente desse modo a tribo sobrevive. Nossa sociedade precisa voltar no tempo e aprender alguns métodos com os povos primitivos para ver que a educação está intimamente ligada à sobrevivência. Ensina-se de modo prático, ensina-se o necessário para a sobrevivência.

As distorções da educação começaram quando as sociedades organizadas transformaram a educação em ferramenta de alguma coisa ou a serviço de alguma organização. Abandonou-se a questão da sobrevivência mediante a transmissão da cultura e a escola passou a servir de instrumento de um estado ou de alguns grupos. A cidade-estado de Esparta, na antiga Grécia, foi um exemplo. As crianças eram educadas para servir ao estado e faziam coisas para servir aos interesses do estado. Eram privadas até de lazer, porque deveriam atender aos interesses maiores desse “grande irmão”, caracterizado pelas suas várias forças atuantes. Perdeu-se a humanidade e ganhou-se na economia e na conquista. A educação servia, então, para esse fim determinado.

Evoluímos para uma situação bem diferente. Agora, pode bem interessar a certos grupos manter a população na ignorância. Torna-se difícil governar no subdesenvolvimento e mantê-lo, se o povo estiver esclarecido e sua mente tiver características de uma inteligência crítica. Educação e subdesenvolvimento não combinam. Ou a educação cede ou o desenvolvimento massacrará os governantes superados, enquanto esperam pela passagem do trem de escolas vazias para explorar os caminhões cheios de boias-frias repletos de homens, mulheres e crianças prontos para uma jornada de trabalho, sem a possibilidade de refletir sobre a exploração da mão de obra ou as possibilidades de melhorias do nível de vida da população.

Hoje é mais importante pensar na disseminação do 15 de outubro como uma data que deveria marcar todos os dias do ano para que a sociedade pudesse usufruir dos meios educacionais de que dispõe. Muito além da pessoa do mestre, mas na abrangência de todos os meios como verdadeiros mestres na humanização do espaço em que habitamos. Hoje é o dia para nos abraçarmos, significando nosso gesto o exemplo da solidariedade desaparecida dos meios humanos; nosso aperto de mão significará nossa adesão ao compromisso com uma educação promotora da vivência do amor entre seres ainda crentes na possibilidade de mudança dos conceitos sociais acerca de nossa dignidade.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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