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Sobre a dignidade do magistério - Parte 3
Às vezes pensamos na perda da dignidade do magistério, porque somos professores. Na realidade, muitos profissionais perderam a dignidade, à medida que foram denegrindo, através dos meios de comunicação e até da fofoca, os mais diversos setores pelas mais variadas razões, algumas absolutamente sem razão. Mudou-se o conceito de médico, advogado, juiz, policial, todos metidos num único rol, sem se levar em conta a experiência das pessoas, os estudos feitos, a competência e o respeito. A questão, portanto, não é só do magistério, e isso até nos conforta. Quando ficamos melancólicos e depressivos no exercício de nossas funções, esquecemos de que temos muitos parceiros, vítimas das mesmas injustiças.
A dignidade do magistério perde-se no tempo pela maneira afoita e descomprometida dos julgamentos baseados quase sempre em generalizações, o que denota pouco critério por parte dos meios de comunicação e de toda a propaganda dirigida para denegrir imagens de certas profissões, como se isso fosse a solução para a crise nacional. Causa tristeza, quando da aproximação da data do magistério, em 15 de outubro, conhecida como “dia do professor”, a vergonha de alguns adolescentes quando falam de seus desejos em relação a esta carreira. Fogem. Não comunicam, sofrem pressões sociais. Mas o reverso existe, como uma contradição absurda, qual seja, a de recriminar o mestre que deu certo.
Uma das características mais vergonhosas do subdesenvolvimento é exatamente a perseguição às carreiras de cunho social capaz de formar a cidadania. Os desenvolvidos procuram prestigiar os seus cidadãos melhores, os mais empenhados em buscar um lugar mais elevado, enquanto os subdesenvolvidos avacalham as expressões voltadas para o progresso e o desejo de crescimento humano das pessoas. Vivemos esses dias. Temos de conviver com eles e com as pessoas e enfrentar com dignidade e muita serenidade os dissabores. Caberá a todos nós, professores no Brasil, ter a coragem de enfrentar a situação, marcarmos nossa presença e sermos os combatentes do front das esperanças em melhores dias para a nação brasileira.
Não nos permite o tempo desanimar nem descansar diante das circunstâncias adversas. A sociedade espera e necessita que nossa profissão recobre a dignidade como um dos requisitos básicos para a reconstrução da consciência democrática. E, possivelmente, após nosso passo, outros criarão coragem, perceberão os caminhos. É próprio de nossa vocação descobrir.
A redescoberta da dignidade do magistério, em pleno subdesenvolvimento, torna-se o mais exigente desafio e, ao mesmo tempo, a maior instigação. Cada um de nós tem um papel no cenário dessa luta. Cada um de nós tem uma consciência para cobrar, sobretudo quando o desânimo bate à porta. E no compasso da espera pelo tempo da mudança, precisamos continuar com as mãos sujas de giz, qual unção específica e marca inseparável da missão do educador.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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