Será o Enem melhor que a Prova Brasil?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Fala recente do Ministro Mercadante, da educação, diante de secretários estaduais reunidos em Brasília levantou a possibilidade da substituição da Prova Brasil pelo Enem, na última série do ensino médio. Acrescentou-se ainda outra possibilidade: fazer estes exames de modo parcelado, semelhantes à aplicação dos vestibulares da Universidade Nacional de Brasília.
 Enquanto a última Prova Brasil atingiu 70.000 alunos da última série do ensino médio, o último Enem avaliou 1.500.000 alunos. Como amostra, não há dúvida de que o Enem é mais seguro e abrangente. Além disso, o exame nacional do ensino médio avalia todas as disciplinas, distribuídas em blocos e, não, individualmente, algo bem diferente de uma avaliação em português e em matemática. Fácil entender, neste contexto, por que o ministro falou em trabalhar pedagógica e didaticamente em blocos de disciplinas à semelhança do que já faz a UNB e o próprio Enem.
Resta saber se a mudança em si mesma terá influência direta nos índices das avaliações do ensino médio. Creio que os resultados mudarão lentamente porque são influenciados por outros fatores, como a qualidade do ensino básico, a formação dos professores e as condições das escolas. Estes resultados podem, inclusive, baixar porque se temos uma quantidade maior de professores para a língua portuguesa e para matemática, enfrentaremos uma avaliação que envolverá disciplinas com carência maior ainda de professores formados. Imaginem que para cada dez professores de física, só há três com licenciatura, no Brasil!
Outro dado importante é a formação do professor. Nossas universidades trabalham com modelos cartesianos, tudo dividindo. São capazes de dividir as disciplinas dentro de si mesmas, criando uma diversidade que atrapalha a compreensão por parte dos estudantes.
A formação dos professores para um modelo seguidor da complexidade e que deixe de lado o cartesianismo exigirá uma árdua tarefa dentro das universidades e na elaboração das questões do próprio Enem. Para alunos acostumados a trabalhar dentro de uma abordagem que tudo divide, haverá dificuldade para assimilar este novo modelo. Os livros didáticos necessitarão de adaptações em suas editoras, os novos professores deverão pensar mais de acordo com Giuseppe Vico, Pascal e Edgar Morin, deixando de lado René Descartes e August Comte e seu positivismo que, por sua vez, tudo divide.
Como se vê, mesmo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, tendo demonstrado coragem ao propor a mudança, claramente adaptada aos tempos modernos, para atingi-la levará tempo e não há como fugir de outro componente importante: sem estímulo, inclusive salarial, a educação brasileira não conseguirá atrair bons profissionais.

Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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