Colunas
A relação professor-aluno em sala de aula - Parte 2
Convivemos, então, com quatro tipos de professores. O primeiro deles é o controlador. Se ele pudesse algemava um aluno na porta da sala. Tudo controla, em tudo interfere no que é necessário e no que é supérfluo. O que comanda a convivência é a vontade própria, típica do “eu quero, eu mando”. Trata-se de uma postura autoritária, não uma postura de quem detém a autoridade. Uma sala de aula não terá bons resultados de aprendizagem se não houver autoridade, contanto que não seja confundida com autoritarismo. As exigências do controlador não têm o foco na aprendizagem e, sim, no próprio controle. Quando trabalhei como monitor em colônias de férias, conheci um diretor, hoje psicólogo, que nos deu grandes lições. Todas as noites ele fazia uma reunião com seus auxiliares e, numa delas, perguntou-nos: - O que vocês sentem quando dão uma ordem ou um aviso e todos obedecem? Têm reações normais ou sentem prazer? Porque, dizia ele, se vocês sentirem prazer ao ver uma orientação seguida pelos seus educandos, aí está a raiz do autoritarismo porque ele está alicerçado no prazer de mandar. Foi uma das grandes lições pedagógicas que aprendi na vida. O controlador faz mais questão que a carteira esteja na posição certa que a resposta do aluno corresponda ao aprendizado desejado. Perde muito tempo com essas formalidades e cria muitos inimigos ao seu redor. Então, não devemos controlar? Sim, devemos, contanto que seja um controle sobre o necessário e tudo o que envolva o bem comum dentro da sala de aula.
Um segundo tipo é o permissivo. Aquele que julga que o futuro da vida vai marcar muito as pessoas e que elas, naquele momento, devem e podem fazer o que bem entenderem. De fato, com essa postura, estes alunos, certamente, terão um futuro difícil porque não aprenderam a viver. O permissivo é o oposto do controlador, exagera indo para outro extremo. O resultado da permissividade é que os alunos não sabem o que é certo e errado, nem como devem conduzir-se nas tarefas diárias. Não há controle algum sobre os exercícios que os alunos devem fazer na sala ou fora dela, não há correções fazendo com que os erros permaneçam. O importante numa correção é perceber quais os erros cometidos para que possam ser corrigidos em classe. Quando um permissivo não corrige um exercício ou uma avaliação por mais de quinze dias, não há mais tempo de repor conhecimento. A avaliação não serviu para outra coisa a não ser cumprir a burocracia de enviar notas para as secretarias da escola. Falta a este tipo critérios e falta a observação. Não há diálogo, apenas permissão. Por fim, não haverá respeito e o reconhecimento necessário a qualquer professor, deixará de existir.
O terceiro tipo, muito comum em nossas escolas, sobretudo nas classes com crianças mais novas, podendo ser a educação infantil ou a primeira fase do ensino básico é o protetor. Muitos professores sentem-se na obrigação de proteger as crianças e acabam por desenvolver uma “despedagogia”. O protetor é um “despedagogo”. Caracteriza-se pela ação de chegar à classe com antecedência, retirar todos os materiais pertinentes à aula, organizando tudo para facilitar a vida dos alunos. Ao final do dia, age ao contrário: ele guarda tudo, organiza tudo e deixa a sala impecável. O protetor retirou as oportunidades das crianças aprenderem a se organizar. São as crianças que devem fazer estas atividades. Primeiro porque podem carregar os materiais e, depois, porque assim agindo, aprendem a se organizar. As relações entre professores e alunos passam pelos caminhos de fazer-fazer. Nós já sabemos, eles precisam aprender. O protetor acaba atrofiando o desenvolvimento dos alunos. É a mesma coisa se compararmos com uma família. Se Mariazinha pode retirar todas as bonecas do armário, ela pode e deve colocá-las no mesmo lugar. Se alguém fizer isto no lugar dela não haverá desenvolvimento gradativo da responsabilidade, do sentido de ordem e de limpeza. Temos de proteger dos erros, dos desvios que levem aos conflitos e dos perigos. Mas, fazer o que o aluno deveria fazer por conta própria, não é proteção é deseducação.
Não pense, caro leitor, que todos nós professores estamos condenados ao fracasso e que não existe um tipo que deva ser seguido. Existe, sim. Creio que se trata da maioria dos colegas que passam preciosos dias de vida dentro de uma sala de aula. Estes são os mais lembrados pelos alunos no futuro. São os educadores.
O que caracteriza um educador é a firmeza de atitudes. Aquele que apresenta um pulso firme e um coração que ama. O aluno vê a bondade estampada numa determinação, numa orientação. Este educador consegue estabelecer limites, discutindo-os com os alunos, mostrando a necessidade e a vantagem de uma determinada ação. Geralmente os educadores costumam escrever, junto com os alunos, algumas normas de conduta e deixá-las bem visíveis dentro da sala de aula. Estes grandes mestres apresentam maturidade. Agem em sintonia com os demais colegas. Quando, numa reunião, alguma norma for decidida, ele explicará a mesma em sala e cumprirá o que foi decidido. Sem esta sintonia com os demais colegas, não teremos educadores e, sim, um grupo dividido que compete entre si para angariar a simpatia dos alunos. O relacionamento, na realidade, não será educativo. O profissional que não consegue esta sintonia deveria fazer terapia antes de entrar em sala de aula.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário