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Refletindo sobre uma homenagem
terça-feira, 03 de março de 2015
É muito bom ser homenageado. Quem não gosta? Há leis que impedem tais contemplações em prédios públicos. Neste caso, no estado do Maranhão, conforme as leis estaduais foi permitido que se fizesse porque esta escola foi construída com parte de verba estadual. A Câmara de Vereadores de Governador Nunes Freire, noroeste do Maranhão, há sete anos, aprovou por unanimidade o nome da escola quando recebeu a proposta da Prefeitura Municipal.
Foi solene o ato de inauguração, com fanfarra escolar, corte de fita e descobrimento das placas comemorativas.
Mas, é importante refletir sobre o que esteve por trás desta homenagem, e esta é a história, que vou contar.
Dra. Regina, uma médica e pediatra era a prefeita de Governador Nunes Freire. Como pessoa formada com especializações feitas em São Luís e no Hospital Souza Aguiar do Rio de Janeiro, reunia em sua mente recordações de práticas escolares dos tempos de ensino básico e médio que a colocavam em conflito com as metodologias educacionais. Geralmente muita gente guarda mágoas das escolas, mantendo-as escondidas pelo resto da vida. Quando faço palestras observo as cadeiras da frente. Geralmente vazias. Trata-se do medo que vem dos velhos tempos, quando os que se sentavam à frente, em vez de elogiados, eram objeto dos principais apelidos, perguntas à queimaroupa, provas orais, etc. O professor, hoje, de modo subconsciente, não gosta de sentar-se na primeira fileira, exatamente pelos medos do passado.
Delineado este quadro na mente da prefeita, houve à época uma conversa dela com a secretária de Educação, professora Rosângela, que é a atual gestora da escola. Fui convidado a enviar alguns livros que questionavam exatamente a educação e que poderiam trazer respostas àquela Doutora Prefeita diante de sua dúvida metódica.
Foi-se o primeiro livro e muitos outros, quase toda a coleção e ai reside a maior alegria: os meus livros entraram em choque com a mente da doutora, que percebeu que alguma coisa poderia ser mudada.
Surge, então, a decisão de fazer na cidade um congresso de educação que foi altamente concorrido e, em seguida ao término da obra, o batismo da escola com o nome do escritor.
Certa feita, no aeroporto da capital gaúcha, conversava com meu amigo Celso Vasconcellos. Dizia ele: — Werneck, estamos mudando alguma coisa com nossas andanças pelo Brasil? — Meu caro Celso, estamos sim, acontece que a educação é lenta e uma geração de palestrantes não consegue ver todo o resultado. E continuamos nossa conversa enquanto esperávamos o veículo que nos levaria ao interior para mais um congresso.
Estive há um mês em Governador Nunes Freire. Um chefe de Estado teria inveja em relação ao tratamento que recebi. Tomava café no hotel, almoçava numa casa ou num encontro, jantava noutra. Sempre havia alguém que me transportava, seja para mostrar a cidade e seus novos loteamentos, como o fez Jarivânio, conhecido pelo Blog que mantém, seja para o programa da FM Nativa com duração de uma hora, com audiência em Médici, Amapá do Maranhão, Junco e Maranhãozinho. Solícitos, tanto o secretário de Educação, João Marinho, e a professora Vânia organizaram um almoço de homenagem das autoridades municipais e uma palestra que ofertei aos professores, como agradecimento pela homenagem recebida, além de um singelo prêmio aos dez professores da escola.
A Câmara de Vereadores sempre esteve presente na pessoa de sua presidente, Francisca Freire, e do vereador Vanderley. E para os que pensam que nada aconteceria se fosse fazer um lanche e tomar um delicioso suco típico do Nordeste, saindo do hotel por conta própria, enganam-se. A garçonete e filha do proprietário me fala que eu era muito parecido com a foto que vira na cidade e queria saber se havia relação com o professor que era nome da escola em que ela estudara. Bastou a constatação para um "selfie” e fotos com toda a família proprietária do Big lanches. Uma expressão calou-me profundamente naquela noite: - Professor, você é muito respeitado e querido nesta cidade.
Colegas de magistério, creiam-me, ainda há muita esperança neste território pátrio.
Fiz duas palestras nas cidades de Amapá e Maranhãozinho. Plateias excelentes e muito atentas. Conversei com os que frequentam os encontros da terceira idade e, numa das visitas à escola, foi possível passar por todas as salas de aula, encontrar com alunos que raramente têm a possibilidade de conhecer quem deu o nome para um estabelecimento de ensino.
Não sabemos o que um livro pode mudar. Não temos ideia sobre as transformações de nossas palavras e palestras, os programas de rádio e TV. Sabemos que alguma coisa fica e algum movimento de mudança é processado. Mas, em Governador Nunes Freire, senti na pele o significado de tudo isso! Muito obrigado, lembrando que a serotonina e a dopamina estão elevadas até hoje!
Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante

Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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