Quando a escola pública discute o uniforme escolar

terça-feira, 15 de julho de 2014

Não há como negar a existência de um debate, mesmo acanhado, sobre a compra de uniformes para os alunos de escola pública em Nova Friburgo. Creio que não me cabe discutir a questão, até porque há muita gente bem formada para debater estes assuntos. Vereadores manifestam-se, técnicos da Secretaria de Educação têm suas opiniões e, em todos os pronunciamentos, pareceu-me que as questões não são tão fechadas, permitindo o debate que a democracia proporciona.

Conheço algumas experiências pelo Brasil que podem servir de subsídio conforme a avaliação das partes envolvidas. Há pouco mais de uma década, na cidade de Campina Grande, na Paraíba, diante de uma rede com 40.000 alunos, a decisão da Secretaria de Educação foi pela uniformização de todos os alunos. Um kit completo, envolvendo tênis, meia, short, camiseta, mochila, agenda, cadernos. Vários itens eram duplos para permitir que fossem lavados. Tratava-se de uma questão muito peculiar porque, sobretudo na zona rural, onde àquela época grassava muita miséria, esta era a melhor roupa que as crianças possuíam. Assim, enquanto a Prefeitura da cidade fornecia uniformes, estava ao mesmo tempo vestindo crianças carentes de roupa, sapato e mochilas. Os demais materiais eram encontrados na própria escola. Grande despesa, diante de grande necessidade.

Houve uma ocasião, no estado de São Paulo, em que a decisão da Secretaria de Educação foi o fornecimento dos uniformes, permitindo que a empresa doadora imprimisse um logotipo em cada peça. Lá, àquela época, estes uniformes incluíam um agasalho para fazer frente ao inverno de baixas temperaturas. Houve muito questionamento e este processo funcionou por pouco tempo. O maior problema residia na transformação das crianças em divulgadores de um logotipo específico de uma empresa.

O que se falou em Nova Friburgo foi algo em torno de nove milhões para a compra do material necessário. Todas as crianças estariam uniformizadas e a Secretaria de Educação, logo após a distribuição, teria a sua marca estampada em toda a cidade e em todos os distritos. Várias questões foram discutidas, inclusive o valor desta quantia que representa quase 10% do repasse anual do Fundeb.

Provavelmente, outro caminho de discussão pode ser aberto. Consideram que os tênis, as calças jeans e as mochilas estão democratizados em nossa cidade. Sendo assim, bastaria discutir a questão das camisetas. Se a Secretaria definir alguns parâmetros que insiram o logotipo da Prefeitura e as letras da Secretaria Municipal de Educação, cada escola pode ser criativa a ponto de organizar com seus alunos e famílias a confecção de camisetas. Trata-se do modo mais simples e mais barato, sobretudo em tempos de "vacas magras". 


Prof. Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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