Professor: um salário nada atraente!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Quando esta história começou? É preciso voltar ao século XVIII, quando Pombal expulsou os jesuítas do Brasil. Pequeno sistema educacional existente era mantido por professores religiosos e missionários. Não havia salário. A coroa portuguesa se encarregava de sustentar seus missionários que catequizavam os indígenas e lecionavam para os filhos dos comerciantes e nobres. Fazendas pertencentes aos religiosos sustentavam com a comida as escolas conferidas aos cuidados da Igreja.
Expulsos do Brasil, os jesuítas deixaram um vazio na educação que pressionou o governo português. Não havia professores. Inicia-se, então, um ciclo curioso, onde pessoas que não tinham formação  assumiam classes de alunos. Se de um lado os “professores” não podiam exigir um salário digno, por outro, o governo desejava que as tarefas de ensino continuassem com a auréola de ação missionária, praticamente sacerdotal. O resultado é que os salários eram baixíssimos ou inexistentes.
Esta é a raiz histórica da baixa remuneração do magistério no Brasil. Como se trata de um país que atinge o mundo universitário com grande atraso em relação à América Latina, os professores formados por universidades sempre foram escassos.
Como resultante, chegamos ao século XXI com uma profissão que desencanta por uma série de razões: falta de segurança por falta de critérios, condições de trabalho penosas, pelo menos em algumas regiões e salários baixos.
A imprensa dá conta, neste outubro de 2012, que o Brasil ocupa o último lugar entre cinquenta países quando se leva em conta o percentual de formados em nível superior. Enquanto a Coreia do Sul, em primeiro lugar, ostenta seus 53%, o Brasil amarga o último, com apenas 12%.
Quando somamos estes dados àqueles que correspondem à evasão de alunos do ensino médio, ficamos assustados porque o ensino superior somente terá acréscimos de alunos se o ensino médio for bom e oferecer candidatos com aptidão. Pois bem, é exatamente no ensino médio que a falta de professores é maior. Em física, por exemplo, para cada dez professores, apenas três possuem licenciatura. Faltam professores em quase todas as disciplinas deste segmento. E, sem salários atrativos, somados à natural rebeldia dos adolescentes, a procura pela profissão diminui a cada dia, fecham-se cursos de licenciatura e, mesmo os que são oferecidos gratuitamente, não completam as vagas.
Mas, se olharmos algumas críticas construtivas que afirmam sobre a defesa de um choque de mais educação, citando a Coreia do Sul como exemplo, somos obrigados a considerar que aquele país asiático paga aos professores 121% a mais que o salário médio dos profissionais do país. Buscando os valores brasileiros e seguindo os mesmos critérios, temos de considerar que ao final de 2011 o salário médio do brasileiro era de R$1.650,00 que, em critérios coreanos deveria projetar para um professor de tempo integral R$3.500,00 mensais. Já seria muito mais atrativo, no entanto o piso nacional que não é pago por um grupo significativo de estados e municípios está abaixo da média salarial nacional.
Portanto, o nosso choque deverá ser muito mais exigente e muito mais urgente se quisermos reverter o quadro desastroso em que a educação se encontra. 
Não adianta comemorar resultados parciais do Ideb diante de tanta calamidade capaz de comprometer o desenvolvimento social e econômico do país.
Tal situação só será revertida com a mudança da mentalidade dos gestores da educação, com ajustes urgentes dos planos de cargos e salários e mecanismos, sobretudo para o setor público, para que possam avaliar e ajustar a situação de profissionais que sejam relapsos ou rejeitem a formação continuada proposta.
Se, hoje, temos uma situação melhor que os anos sessenta, quando comparamos o Brasil com ele mesmo, a visão não será tão otimista se o compararmos com outros países que evoluíram muito mais que nós.

Professor Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante.
www.hamiltonwerneck.com.br

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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