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Práxis e aprendizagem nas escolas e universidades - Parte 3
O centro do problema, assim mostra a experiência, é que os educadores desestimulados com baixos salários, sentindo-se despreparados por falta de formação continuada e sem apoio pedagógico, não conseguem ver a urgente necessidade de mudança no modo de agir e, consequentemente, no modo de encarar os compromissos profissionais.
Quando se fala em tecnologias modernas revejo a mais que antiga que envolve o lápis e o papel: 13.000.000 de brasileiros não atingiram este patamar, como mais de treze milhões não conseguem ler um texto, sabendo o que leram.
Uma das questões importantes no ensino é ensinar a ler. Parece simples, porém, não é. Muitas escolas ridicularizam o “contador de histórias”. Pois bem, este grande mestre consegue fazer com que as crianças formem imagens no próprio cérebro, saboreando histórias desejaram, depois, lê-las, manuseando livros e, caminhando nessa direção, chegarão aos clássicos de nossa literatura.
Ao ensinarmos uma criança a ler é importante que façamos uma descoberta: qual o livro que ela gostou de ler ou está lendo por prazer. Quando fizermos esta descoberta que surgirá um pouco depois da criança fazer sua escolha, precisamos incentivá-la para que devore este livro. Assim ela gostará de ler e, mais tarde, será uma leitora de nossos clássicos. Na vida de magistério encontrei vários colegas afirmando que se a criança não tiver contato com os clássicos da literatura durante a escola, quando teriam este tempo mais tarde?
Creio ser um grande engano. Se a criança adquirir aversão à leitura, rejeitará até o jornal diário e os textos dos portais de internet, provavelmente ficará restrita aos Messenger, aos sites de relacionamento, permanecendo envolvida somente por futilidades que não produzem cultura.
Marisa Lajolo, professora da Unicamp, afirma que “os alunos sabem o que o professor pensa, os professores, no entanto, não sabem o que os alunos pensam”. E tal fato ocorre porque o livro é escolhido pelo professor, marcando-se em seguida a prova do livro. Decreta-se a morte da leitura e do leitor. Mata-se a genialidade no ninho!
Quanto à leitura, ainda me inspirando em Lajolo, nós temos três tipos de leitor: o clássico, o disperso e o imersivo.
O clássico segue as mesmas regras do século XII, quando os mosteiros definiram que nas bibliotecas deveria reinar o silêncio. A leitura de capa até contracapa será sempre silenciosa e meditativa. Essa ainda é a leitura predominante desejada pelos professores. Os adolescentes, membros das gerações “Y” e “Z”, são adeptos de uma leitura dispersa, aquela que ocorre enquanto o ônibus passa por um outdoor, o metrô passa pelos anúncios de uma estação ou o carona da moto vê algo escrito em algum lugar. Vale aqui, nessa dispersão, as leituras dos inúmeros indoors existentes nos prédios comerciais, elevadores de hotéis e repartições públicas e universidades. Essa leitura dispersa leva à mente de quem lê, na maioria das vezes, uma ideia distorcida dos fatos. Não há tempo para reflexão e, como decorrência, surge a aporia ou essa nonorder de que nos fala Canevacci em Culturas Extremas.
Finalmente, a leitura imersiva, quando o leitor está envolvido com textos, imagens e música. Tal é a situação em que ele se encontra que podemos, também reportando-nos a Canevacci, encontrar um exilado virtual. Parece que seu corpo está ali, completamente desligado do texto e do contexto, num e-space.
Mistura-se esta leitura à imaginação e, pela quantidade de imagens apresentadas, todas prontas, o cérebro não precisa esforçar-se. Temos uma avançada tecnologia e um empobrecimento, junto com ela, do desenvolvimento mental.
Exige-se, hoje, do educador que ele domine a técnica e aproveite para orientar seus alunos. Na maioria das vezes vemos, sim, a proibição da ferramenta e não o desenvolvimento de uma cultura necessária para saber como se deve manipular um celular, por exemplo. Então os políticos e os educadores olham estas questões dentro de quadros simplesmente disciplinares. Proíbem o uso, achando que cumpriram uma missão de alto mérito.
Nada disso, apostaram no atraso e agiram como as escolas de outras décadas que proibiram a caneta esferográfica e, depois, as máquinas de calcular.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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